Há um longo traveling num corpo masculino que vai viajando lentamente desde o seu pénis até ao pescoço. Depois surge a pergunta: “Porque não me perguntaste sobre este filme?” A realizadora romena Adina Pintilie, que já esteve no IndieLisboa, estabelece nesta sua primeira longa metragem, em competição para o Urso de Ouro, um diálogo interessante com o espetador.
Este é um filme sobre a forma como as pessoas com limitações, sejam elas físicas ou psicológicas, lidam com a intimidade. Por isso mesmo, este é um filme que é também ele próprio um processo terapêutico, já que os pacientes se submetem diante da câmara de Pintilie, mas em que o público acaba também por ser visado. Isto porque se quebra essa quarta parede e a lente da câmara olha para fora do ecrã. Mas ao olhar para fora, a própria realizadora assume-se também como parte desse jogo.
Este caminho que tem bastante de documental inicia-se com Laura, uma mulher incapaz de ser tocada que procura ativamente superar a sua barreira. Seja a procurar soluções com um prostituto, com um travesti, com um terapeuta. Só que ela funciona como um animal selvagem que defende o seu centro. Neste processo intervém também um grupo de pessoas com graves limitações físicas e psicológicas que são colocadas diante outras aparentemente sãs para que se toquem e se conheçam.
O efeito acabe por ser claramente o de uma terapia, em que vamos até aos limites para que consigamos entender esses limites. Isso inclui, por exemplo, um cube de s&m, em que a intimidade atinge o seu máximo de entrega. Só que essa entrega acaba também por atingir a realizadora num contra campo inesperado.
Ou talvez nem tanto, já que Adina Pintilia havia trabalhado antes com doentes mentais, no documentário Don’t Get Me Wrong, logo no seu primeiro filme, em 2007. Mas em Touch Me Not, Pintilie passa para o outro lado e supera-se. Por isso mesmo saudamos este seu processo. É seguramente, o filme mais audacioso e corajoso da competição. Só por isso, já merece um prémio.