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Tilda Swinton: “O amor é a honestidade de nos mostrarmos a outra pessoa”

A ideia de fazer ‘Eu Sou o Amor’ tem onze anos. Foi um projecto conjunto entre a actriz e o realizador italiano Luca Guadagnino. Um magnífico exercício sobre a procura do amor verdadeiro. E um filme intemporal. Falamos com a actriz em Berlim.

Este filme tem um ambiente que não se parece com nada que tenhamos visto recentemente. É um filme clássico, mas de hoje. Concorda? Qual foi o ponto de partida?
Plenamente. E foi precisamente isso que quisemos fazer. Pensámos num filme sobre um meio que pudesse ser quebrado por um ritmo diferente, pela própria natureza; algo natural. Pensámos também numa mulher da minha idade que conheceria alguém mais novo. E para quem o amor seria uma evolução. Foi esse o ponto de partida.

Sente-se aqui uma proximidade entre os espaços e os ambientes de um cinema clássico, de Visconti…

Ainda bem que o diz, porque é  intencional. Não só o Visconti, mas também Hitchcock, Jonathan Demme, John Huston. Quisemos criar um millieu que fosse completo e selado. Quisemos que esse ambiente burguês, que já é distante de Visconti, fosse mais actual. É um mundo muito fechado. Tal como o eficiência daquele almoço.

Como descreveria o trabalho que desenvolveu com o Luca?

Foi um trabalho de família. Somos amigos há muito tempo., E temos uma relação muito cúmplice. E temos outros planos. O Luca é um realizador extraordinário. Uma das coisas que mais gosto de trabalhar com ele é por ser um ser voraz naquilo que faz. Ele não vê diferença entre o cinema clássico e o moderno.

Tentou-a a passar para o lado de lá da câmara?

Ele está sempre a tentar levar-me para a realização. Eu já fiz muitas coisas como produtora. Sempre gostei de fazer as cosias com um sentido de “faça você mesmo”, algo que aprendi com o Derek Jarman. Mas sim, ele está sempre a tentar seduzir-me com a realização.

Não se sente tentada?

Não me sento tentada.

Gostei muito de escutar o seu italiano…

E russo! E não há dobragem nenhuma. Apenas tive de tentar chegar perto do sotaque.

Mas foi convincente…

Mas tive de aprender a falar. Mas não  é muito diferente das outras línguas. Fiz muitos filmes na América e foi um pouco a mesma aprendizagem do sotaque.


Teria sido este o seu primeiro filme em italiano?
Deixe ver… Talvez, apesar de ter estado numa peça, Lawrence, encenada pelo Derek Jarman. Tinha um pequeno papel em que passava o tempo a correr no palco e a gritar em italiano. Foi hilariante. Mas adiante…

A sua personagem é bastante reveladora. O que foi que a seduziu mais nesta na Emma Recchi?

Gostei da calma dela. Ela não verbaliza muito. Apesar de não ser italiana, é russa, mas não é  uma pessoas que falaria muito, mesmo na sua língua. É alguém que serve há muito a vontade alheia. E de repente salta do seu ser para se libertar.

Como a definiria?

Emma é uma pessoa que vem para Itália sem nada, completamente vazia. E disfarçada para estar naquele ambiente de sociedade. A decisão dela é começar uma vida completamente nova. Quando a encontramos, a vida dela já deu a volta. Tem filhos já crescidos e supostamente já passou o tempo dela.

No caso dela, o amor acaba por ser uma prisão, pois vive há muito tempo com um homem que não ama. Serão então o amor uma prisão?

Será o amor uma prisão… Para mim, o amor é a honestidade, a honestidade de nos mostrarmos realmente a outra pessoa, sem receio de que essa pessoa possa negar parte daquilo que é e que não tente mudar a outra. Se essa pessoa for prisioneira, então provavelmente continuará prisioneira.

Sentiu-se confortável durante a cena de sexo?

Qual delas? A cena com o homem ou a cena com a comida?


(Risos)… A mais bucólica, digamos assim.
Foi muito fácil de fazer. Quisemos fazer algo muito natural, livre e também alegre. Muitas vezes, as cenas eróticas tornam-se muito dolorosas em que as pessoas parece que têm de concentrar-se mais do que se tivessem a fazer amor a sério.

 

Qual é para si a diferença em ver um filme como prazer individual ou participar num júri?

Para mim, o cinema é muito pessoal e não o consigo ver de uma outra maneira. E quando estamos num júri isso não muda, acho que tempos mesmo de ser muito pessoais. Já estive em vários júris e tenho sempre imenso prazer. É isso que nos pede o cinema, que tenhamos uma resposta pessoal àquilo que vemos. Tenho uma resposta ao cinema como uma criança.

Mas acha que o olhar das crianças é hoje um pouco moldado?

Não acho. Todas as forma de entretenimento mantém vivo nas crianças a ideia de evento. O que deveremos fazer é que todos os filmes são um evento. Seja um blockbuster ou um filme erudito. Ir ao cinema não sabendo o que se vai ver pode ser uma descoberta imensa.

 

O seu filme esteve agendado para passar no IndieFestival em Lisboa. Já  alguma vez visitou Portugal?

Não, nunca tive a oportunidade, mas tenho imensa vontade de ir. Não quer convidar-me?

Por mim, fica convidada. Está  prestes a completar 50 anos. Como encara esta data, este período da sua vida? A idade é algo que a preocupe?

Acho que 49 é o número certo, pois são sete vezes sete…

É verdade que vai fazer um filme com a Lynn Ramsey, ‘We Need to Talk About Kevin’?

Sim, se calhar é por isso que eu irei a Portugal. É um projecto que temos desenvolvido em conjunto há muito tempo.


É um filme que toca de perto o tema das crianças e das mães, algo que a Tilda conhece também. Os seus filhos estão aqui em Berlim?
Sim, estão aqui também. Ou estão no cinema ou no jardim Zoológico. Das duas uma.

Está  a vê-lo envolverem-se no cinema?

Eles gostam imenso de cinema e são co-curadores do meu festival de cinema na Escócia.

 

Paulo Portugal, Berlim

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