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Estará Malick a perder o mojo, aquela vitalidade que fez dele um cineasta de eleição, de uma devoção quase endeusada? Assim parece.
Desde que ganhou a Palma de Ouro em 2011, com A Árvore da Vida, que os aplausos passaram a ser recebidos igualmente com apupos. Uma tendência agravada no seu filme seguinte, logo em 2011, A Essência do Amor, em Veneza, por entre aplausos dos devotos mas também os uivos dos não crentes.
É pena pois o nome de Terrence Malick tem sido encarado como uma espécie de quase divindade no panorama cinematográfico e os seus filmes etéreos funcionado como jóias num terço religioso que se celebrava apenas com vastos intervalos de tempo que duravam, por vezes, entre os cinco e os dez anos de distância. Ganhou o Urso de Ouro em Berlim, em 1998, com A Barreira Invisível e a consagração Cannes, no momento em que o seu cinema atingiria o zénite da consagração. A verdade é que desde A Árvore da Vida, Malick tornou-se quase num realizador workaholic entregando três filmes em quatro anos.
Desta vez, as cartas de tarot que dividem o filme em inúmeros capítulos, como o cavaleiro do título, ainda que nem sempre possamos seguir o seu significado, encabeçado por Christian Bale no papel de Rick, uma celebridade a viver uma espécie de limbo criativo, muito provavelmente por se ter perdido numa espiral de fama e desaprendido a veia criativa através da teia das outras vedetas.
Numa interpretação feita de presença física, quase sem diálogos, Bale evolui de festa em festa e de olhar vazio como que acentuando os excessos de Hollywood, em imagens de pura ostentação e decorativismo, onde não escapa até um Antonio Banderas a dançar dentro de uma piscina. Isto sempre com uma câmara distante que prossegue como um espírito uma viagem em redor das consciências humanas.
Como tem sido recorrente nos filmes de Malick, os diálogos são mais em off, como sucede neste caso com o acompanhamento do timbre sempre pomposo Sir John Gielgud. Já a câmara etérea de Emmanuel Lubezki desliza e contempla as personagens, raramente nelas se fixando, frequentemente apenas em planos cortados.
Apesar de Malick conseguir em Cavaleiro de Copas alguns momentos de elevação, como uma espécie de consciência velada de uma Hollywood corrompida, vazia de ideias e onde apenas o lucro conta, acaba por nos deixar alguma sensação de vazio. Parece até um Malick mais focado em formular esboços de personagens com o seu habitual distanciamento.
Em suma, empenha-se ao acentuar o peso visual de uma comunidade corporativa e materialista, mas acaba por ser vítima do mesmo vírus ao não evitar que o seu filme fique também, inevitavelmente, esvaziado de parte do seu interesse.