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O cinema é lindo… porque sim. Porque tem uma estética e narrativas próprias. E nem todo ele é lindo de morrer, pois cada qual com a sua opinião. E como no caso do novo filme de Vicente Alves do Ó o cinema parece começar a aproximar-se mais da trama televisiva, temos de concordar que lhe falta, desde logo, essa beleza principal.
Pelo menos, é nisso que desagua O Amor é Lindo… Porque Sim!, a partir de um guião deste cineasta e guionista experimentado, como que surfando a onda do ‘cinema-português-comercial-que-leva-espectadores-às-salas’, numa iniciativa patrocinada pela ideia genial de Leonel Vieira, de recriar versões aggiornadas dos clássicos O Pátio das Cantigas, com o retumbante sucesso que conhecemos, O Leão da Estrela, bem mais modesto, mas ainda assim eivado do mesmo fenómeno. E que se aguarda seja repetido, lá mais para o final do ano, com A Canção de Lisboa.
Não deixa de ser algo surpreendente a opção do realizador Vicente Alves do Ó em trilhar o percurso da comédia popularucha e televisiva com o seu novo filme, ainda que o desejo de obter sucesso comercial e um retorno financeiro seja louvável e até mesmo desejável. Seja como for, assinala-se aqui uma clara inversão do perfil e substância bem mais cinematográficos marcado pelos anteriores Quinze Pontos na Alma, com uma boa direcção de Rita Loureiro, e Florbela, num excelente trabalho de Dalila Carmo. De resto, sublinhado pela sua longa experiência de argumentista, em cinema e televisão.
Ficamos, por isso, um pouco baralhados com a opção narrativa de Alves do Ó em navegar a onda dos blockbusters à portuguesa, no que parece ser um remix da moda com as novas versões do Pátio das Cantigase O Leão da Estrela, embalada pela produção de Ivan Coletti, com larga experiência na Plural e na saga Morangos com Açúcar.
Nada a dizer das ambições do realizador em habilitar-se a convencer o público televisivo a sair à rua para ver esta sua comédia romântica, e até trazendo consigo a turma inteira dos seus alunos da escola de actores Act (a mesma de onde saiu a excelente actriz Anabela Moreira). Embora nos pareça algo estranho que a primeira experiência a sério deste grupo venha a ser o cinema feito televisão. A menos que a estes novos actores lhes agrade mais a entrada no mercado das telenovelas. Algo que parece confirmar-se quando alguém diz no filme se conseguisse entrar numa novela tinha a vida resolvida. Se assim for, tudo bem. Mas adiante.
É claro que entre o grupo de alunos da Act, temos alguns actores profissionais que seguram as pontas desta comédia à portuguesa mais empenhada em fazer-nos rir à força do que a surpreender-nos com algum humor inesperado. Nesse esforço louvável contribuem ainda, com presença maior ou menor, Carolina Serrão, Francisco Vistas, Sara Almeida, Cláudia Alfaiate,Sónia Lisboa, entre outros e outras.
Como sempre a muito experiente Maria Rueff responde com o ‘boneco’ que lhe calhar, aqui no papel da cartomante Gigi, mãe de Amélia e muito devota de Stº António, que haverá de a acompanhar à ganadaria de Bubu, bem como a sua outra filha, uma actriz indie, e privar com a mãe benzoca (Silvia Rizzo) e muito gin lover, numa réplica perigosa, por isso sem graça, à personagem de Alexandra Lencastre em O Leão da Estrela, de Leonel Vieira.
E haverá ainda a psicóloga Dalila (Ana Brito e Cunha) que quase terá um afrontamento depois de lidar com a fartura de pretendentes da Amélita. Ela que quase não via homem vai para cima de dois anos…
Vejamos, o desencanto deste Amor não pode ser atribuído à visível inexperiência de grande parte dos atores, ou a uma falta de talento de Alves do Ó. Os atores não têm mesmo muita experiência e Alves do Ó tem o seu talento. Até porque, aparentemente, o produto desejado é o produto devolvido aos espectadores, na tal tentativa de trazer o público televisivo para os cinemas. Em si a atitude até é muito nobre. Não se pode é dizer que o resultado seja satisfatório. É apenas assim. Porque sim!