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Diário de uma Adolescente: um filme sobre hormonas e tudo o que está à volta

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I had sex today. Holy shit! Assim começa de forma despudorada Diário de uma Adolescente, a estreia de Marielle Heller, numa audaciosa adaptação da novela gráfica homónima de Phoebe Gloeckner. Desde que foi exibido em Sundance, em Janeiro passado, passou a ser um ‘queridinho’ dos festivais, arrecadando prémios por onde foi passando, até ser adquirido pela Sony Classics, o que não deixa de ser algo surpreendente dado o tema algo controverso.

E não é só por relatar as aventuras sexuais de Minnie, uma adolescente de quinze anos que celebra a sua sexualidade numa San Francisco em 1976, aberta a todas as experiências. Mas por o fazer com um misto de candura e abertura desarmantes que não nos deixa sequer tempo para nos atrapalharmos com quaisquer preconceitos.

Sim, é um filme sobre a descoberta prazenteira do sexo, bem como outras curiosidades que aguçam os horizontes da mente versão contra-cultura.

A verdade é que assim que colocamos os nossos olhos nos de Bel Powley percebemos que esta Minnie se trata de um caso sério. Ela que permanecia escondida em séries televisivas que nunca vimos, como Benidorm.
Desde que decide gravar numa cassete o diário em que relata as suas aventuras sexuais percebemos que a ansiedade púbere nunca tinha sido tratada desta forma no cinema ou onde quer que fosse.

Mesmo quando aponta a sua atenção para Monroe (Alexander Skarsgard), o namorado da mãe (Kristin Wiig) que no meio de uma vida de demasiada liberdade sexual temperada pelo consumo de drogas leves e duras se deixa embalar pela tentação.

É essa linha de respeito à novela gráfica que Marielle Heller trilha num trabalho que tempera a linha gráfica dos desenhos da novela de Gloeckner, de conteúdo ‘autobiográfico’, e que foi, de resto, proibida de entrar na fronteira em França e em Inglaterra, devido ao seu conteúdo ‘pornográfico’, para além das acusações de ´pedofilia’.

Mesmo sem condescender com o tema – vejam-se as ilustrações, muitas delas no filme, que não deixam margem para dúvida -, Heller não precisa de improvisar quando descreve a forma como a amiga de Minnie lhe conta os habituais ‘fellatios’ ao negro seu vizinho com um ‘membro’ de grandes dimensões. E estamos conversados.

Kudos ainda para Heller na rigorosa descrição de época, alinhavando o filme com uma fortíssima banda sonora, onde podemos vibrar com o som dos Television, Moot the Hoople ou Iggy Pop e os Stooges; Iggy a quem Minnie e a colega destravada Kimmie (a estreante Madeleine Walters) simulam lamber os genitais do cantor no poster na parede. Isto antes de Minnie celebrar a sua independência e abraçar a vida undergroundde San Francisco, em Haight-Ashbury, onde abundavam os drunfs quaalludes (ou mandrax) até se afirmar definitivamente nas suas criações, especialmente depois do incentivo da artista Aline Kominsky, mulher do excêntrico cartoonista Robert Crumb.

Diário de uma Adolescente não é apenas um filme sobre hormonas; é sobre hormonas e tudo o que estava à volta na San Francisco dos anos 70. Assim é este Diário. Portanto, qualquer semelhança com Diário de um Banana será pura coincidência.

Seguramente, uma bela proposta pascal, na melhor alternativa a heróis-super ou bíblicos.

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