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Southpaw – Coração de Aço: Não é Touro Enraivecido!

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Quando se vê primeira vez a imagem do musculado Jake Gyllanhaal em plena acção no ringue de Southpaw é difícil não ficar excitado pelo empenho realista que este enorme actor consegue transmitir.

Percebe-se o impressionante investimento físico, a atitude e até alguns momentos cruciais que se descobrem depois no trailer. E quando pensamos que é Antoine Fuqua que está ao leme do filme deixamos-nos invadir voluntariamente por esse entusiasmo incontido.

Pena é que, bem antes de ter terminado as duas horas de fita, já perdemos grande parte do seu impacto, derramado numa série de trivialidades sobre o género próximo dos filmes de pugilismo que lhe retiram grande parte desse empenho inicial.

Será Southpow – Coração de Aço um filme a deixar cair? Nem por isso, até porque nem Jake nem Rachel McAdams sabem fazer mal. Parece-nos é que a história de Kurt Stutter falha o seu propósito.

Por falar do argumentista, os seus créditos apenas nos poderiam dar as melhores indicações, já que assinou grande parte da série The Shield, um policial durinho, mas com alma, com Michael Chiklis, bem como a criação de Sons of Anarchy, outro seriado a destilar testosterona.

Se é verdade que esse elemento não falta em Coração de Aço, já se percebe menos como a trama se deixa enredar pelos lugares mais comuns da narrativa mainstream.

Mas, vejamos, Gyllanhall assume-se como o campeão de pesos pesados Louis Bloom, a desfrutar do pico da sua carreira. Ele é mansão, mulher bonita (Rachel, já se sabe), uma filha (uma revelação chamada Oona Laurence); mas também tudo aquilo que o dinheiro pode comprar.

Até que uma descarga superior de atitude macho, temperada com o arrivismo de um rival (Miguel Gomez) descamba num acidente com uma arma que lhe rouba a vida da mulher.

No fundo, algo que leva Bloom a uma descida em espiral aos abismos do álcool e dos clichés habituais, onde perde a mulher, a casa, o dinheiro, o manager (Curtis Jackson aka 50 Cent) e até a custódia da filha.

Naturalmente, já se sabe o que se segue – despoleta-se ira tremenda contra tudo e todos resultando também no abandono de quase todos. Bom, quase todos, porque no seu regresso ao grau mais básico da humanidade, Bloom encontra-se com o ex-treinador Tick Willis (Forrest Whitaker), ele próprio com a sombra dos maus passos, mas que ajudará Bloom a reerguer-se e a recuperar a família que lhe resta.

Ou seja, de certa forma o filme deixa de ser, logo no início, aquilo que muitos de nós desejariam que fosse, para ser tornar em algo que muitos de nós preferiam que não fosse. É por isso aqui que Fuqua e Stutter parecem não ter percebido a nuance. Desde logo porque tudo isso acontece cedo demais no filme, acabando por irremediavelmente o condicionar. Resta-nos um final embrulhado que já não chega a convencer.

Nesse aspecto, diremos que Southpaw – Coração de Aço acaba por trilhar um percurso que acaba por não ser demasiado distante de Creed, de Ryan Coogler, ainda que o filme de Coogler encontre uma via bem mais interessante para evitar certos lugares comuns que Fuqua não considerou serem danosos para o seu filme.

É claro que filmes como Rocky, The Fighter, Million Dollar Baby ou mesmo Real Steel têm todos um figurino com elementos muito comuns, que ora se tocam ou se afloram, deixando em lume brando um derradeiro combate final para acertar todas as contas.

Southpaw – Coração de Aço apenas introduz o drama pessoal nessa variável, embora percorrendo demasiado tempo essa via, mesmo com histórias paralelas que nunca chegam a ganhar interesse próprio.

Ainda assim, não podemos deixar de nos distrair com os momentos visuais bastante bem captados, sobretudo os vigorosos combates no ringue, em que Jake dá, como é habitual, tudo o que tem. Só por isso já valerá a pena, tal como a excelente banda sonora a cargo de Eminem, a par do score musical de James Horner, aqui num dos seus derradeiros trabalhos, ele que morreria em Junho passado, apesar do filme lhe ser dedicado.

Pena é que não seja daqueles que ficam para a memória.

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