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To be, or not to be… Star Wars. No caso de Rogue One – Uma História de Star Wars somos tentados a responder… Not to be. Isto porque o que temos é apenas um simulacro, uma aparência do universo Star Wars. É mais um filme série B em modo piloto automático, desemocionado e com uma intenção de fazer render o peixe. Depois da emoção vintage do Despertar da Força propõem-nos agora uma… “história”. Ai que somos tentados a adormecer de novo… Pelo menos, até ao Episódio VIII?
Será que Star Wars já não é o que era? Pois não. Apesar do final do promissor final de O Despertar da Força. Pois esta foi a pergunta que se nos colocou à saída do visionamento de Rogue One, de tão vazios que ficáramos de Star Wars… No entanto, parte dessa reticência, ou explicação, vem já prenunciada no título. Isto porque, esta nova leva, defendida pelo britânico Gareth Edwards, o realizador britânico que vem dois efeitos visuais e que assinou apocalíptico Monsters (2010) e, há dois anos, o mastodôntico, ainda que interessante, Godzilla, avisa que vai sair do trilho e criar “uma história”, um conto para prenunciar a destruição da Death Star, a tal estação espacial capaz de deletar planetas inteiros. E antes de Luke Skywalker ser Luke Skywalker, ou seja, um pouco antes do episódio IV. De resto, o nome Rogue One surge no filme como um mero acaso . Lá está, tudo é feito sem paixão, sem chama ou emoção.
Mas é claro que não vamos ver isso em Rogue One. Nem isso, nem quase nada. Isto porque o que se nos apresenta é uma história que mais parece um verbo de encher. Seguramente, os bolsos dos executivos e produtores da Disney, que depois de adquirir a propriedade de George Lucas promete transformá-la num gigantesco parque de diversões. Ou seja, já não é cinema, é montanha russa. Talvez por isso mesmo se justifique a ausência do vigoroso main theme de John Williams…
A chancela Star Wars está lá, as naves X-Wing e Tie Fighter também, os fatos propositadamente vintage também. Ah, Darth Vader também aparece uns minutinhos. E mesmo R2D2 e C3PO aparecem por uns segundinhos. Por isso, se espirrarmos na altura errada, arriscamo-nos a perdê-los de vista. Na vez deles, ou do patusco BB8 de O Despertar da Força, temos antes o marreco droid da força imperial K-2SO, a quem são injetadas, um pouco à força, algumas das poucas tentativas de humor. No entanto, o protagonismo, já se sabe, cabe a Felicity Jones, a encabeçar a ‘rebelde’ Jyn Erso, herdeira de uma causa, mas patusca no seu uniforme que parece saído das Tartarugas Ninja, destinada a liderar um grupo de personagens numa narrativa que poderia ser herdeira de um qualquer western, próxima até de Os Sete Samurais, e não apenas pela utilização de um samurai cego (ah, Zaitochi!). A meio lá vamos percebendo que terá a ver com a Death Star, e o tal glitch, transmitido pelo pai (Mads Mikkelsen) que tudo poderá destruir. Ao lado de Jyn temos ainda Cassian Andor, com o empenho de Diego Luna que ainda não tinha nascido quando surgiu a Força de Star Wars.
Esta nova saga vem assinada pela dupla Chris Weitz (o homem de Cinderella) e Tony Gilroy (o homem da saga Bourne), no que parece até uma união feliz, já que miss Jones cumpre com eficácia o papel de heroína embalada em algumas rocambolescas cenas de ação. Se bem numa narrativa mais assente no breviário da saga do que propriamente em criar algo de novo. No entanto, predestinada a acrescentar mais personagens aos futuros parques temáticos.
Pena é que em Rogue One a nossa atenção esteja constantemente a ser desviada à medida que nos enviam de um planeta para o outro, sem aparente conexão, apenas para justificar a narrativa rebelde. E como vilão, se é que assim pode chamar, teremos apenas a figura de Orson Krennic (o australiano Ben Mendelsohn, bem mais adequado em Reino Animal ou Killing Them Softly), uma espécie de pau mandado de Vader, que pouco se digna a aparecer.
É claro que termos combates aéreos, ainda que sem história que os valha, até chegarmos a uma espécie de província tropical, seguramente inspirada no desenho arquitetónico do Dubai. Com óculos 3D, já se sabe, mas sem nunca os justificar visualmente. Ou seja, Rogue One é uma desculpa para um filme formatado. Ainda assim, promete bater recordes de bilheteira. Claro, é Star Wars, estúpido!