A questão acaba por ter uma ressonância maior quando ficamos a perceber que a verdadeira razão para esse jantar de família tem por detrás um ato de injustificada violência cometido pelos filhos adolescentes de dois irmãos, o político Stan Lohman (Richard Gere) à beira da aprovação de uma importante lei que poderia ajudar a sua carreira, e o professor Paul (Steve Coogan) que nunca conseguiu superar a forma como foi sempre o segundo na sua família algo disfuncional e que racionaliza tudo através de metáforas de guerra.
Este quarteto de luxo é complementado ainda pelas respetivas mulheres, Claire e Katelyn, com réplicas igualmente intensas por parte de Laura Linney e Rebecca Hall. Temos então um filme de diálogos e de interpretações, percorrido por flash backs destinados a esclarecer os elementos que conduzem às grandes decisões que esta família terá de tomar. Naturalmente, a revelar toda a intensidade deste quarteto de atores, em particular Steve Coogan, particularmente brilhante num registo entre a suave loucura e acessos constantes de um humor ácido demais. É que segundo ele, a guerra é movida por amor, onde o happy end é impossível. Como numa tragédia grega. E o que vamos ter é, basicamente, um terreno de guerra, daí a comparação feita à decisiva batalha de Gettysburg, em 1863, no momento decisivo da guerra civil americana.
Esta é também uma viagem à geração do youtube, à violência e prepotência da vida burguesa e ao branqueamento das suas ações. No filme, tudo parte de um clip revelador de um crime hediondo envolvendo os seus filhos e um sem-abrigo. A esse respeito recordamos, e não por acaso, Temos de Falar Sobre Kevin, de Lynne Ramsay, mas se calhar até nos socorremos do sucedido recentemente da morte provocada pelos filhos do embaixador do Iraque em Portugal. Sim, à mesa acabarão por ter de falar sobre o que sucedeu com os seus filhos Charlie e Rick, mas igualmente perceber em que medida esse ato poderá ser branqueado ou exigir uma justa penalização. Em última análise, um dilema com que todos somos confrontados.
Depois de O Mensageiro, Rampart – O Renegado e Viver à Margem, Moverman compõe mais um retrato incomodo da realidade americana, embora permita também uma auscultação individual do pulsar das nossas próprias contradições. Pelo caminho, aborda ainda os reflexos das doenças mentais e tudo aquilo que reside por detrás das diferentes fachadas. Subtil e intenso, The Dinner é um calórico menu emocional sobre a natureza humana.