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Dino Risi: um século do ‘maestro’ da ‘commedia’ italiana

Dino Risi representa para o cinema italiano aquele grito de alegria que supera o neo-realismo dilacerado pela guerra e se reinventa na absoluta necessidade positiva de encarar esse admirável mundo novo em crescimento. O resultado é um novo perfume que acabaria por dar aroma único à ‘comédia à italiana’, o movimento positivo que se tornou em género a partir do final dos anos 50, impulsionado por Mario Monicelli.

Com Risi despontariam também alguns dos maiores ícones do cinema italiano – Vittorio Gassman, claramente o seu alter ago, com quem rodou 16 filmes, mas também Ugo Tognazzi, Alberto Sordi, Nino Manfredi, Marcello Mastroianni, Monica Vitti… Afinal de contas, os ‘seus Monstros’. É esse filão incontornável do cinema dos anos 60, feito de inúmeras obras-primas, que se tem vindo a descobrir na seleção Amarcord que celebram o centenário do seu nascimento de Risi numa programação a abrilhantar a 10ª Festa do Cinema Italiano. O ciclo prolonga-se até ao próximo dia 20, na Cinemateca.

Vittorio Gassman e Jean-Louis Trintignant, em A Ultrapassagem (1962)

Da euforia de viver de A Ultrapassagem (1962) a Perfume de Mulher (1974) como que se celebra também o vendaval Gassman. O seu corpo e rosto insaciáveis aceleram a fundo neste frenético ‘road movie’, já depois de ter arrancado dos estudos o marrão Jean-Louis Trintignant para uma viagem eufórica destinada a celebrar a alegria da recuperação económica e afogar as mágoas do passado. Daqui ao périplo libidinoso de Perfume de Mulher (1974) em que Gassman assume o papel do capitão cego suavemente misantropo que Al Pacino haveria de recuperar em 1991, perpassa a grande velocidade a parte mais saborosa do cinema de Dino Risi.

Perfume de Mulher (1974)

Ao longo desta dúzia de anos inscrevem-se alguns dos maiores momentos do sempre intenso Vittorio Gassman, o tal homem capaz de injectar um vírus de humor em qualquer texto. Como se poderá observar nas inúmeras sátiras refletidas nos sletches de Os Monstros (1963), tantas vezes em parceria com Ugo Tognazzi, ou como Gassman imprime gás ao adido de imprensa de uma equipa de rodagem italiana no pouco conhecido O Gaúcho (1964), desde logo, um excelente complemento para A Ultrapassagem, onde, de resto, encontra também Nino Manfredi. Este que dará corpo a outro filme de sketches, este suavemente eróticos, de Vejo Tudo Nu (1969), celebrando essa liberdade de falar e mostrar o que fora tabu.

Alberto Sordi, Uma Vida Difícil (1961)

Cabe ainda descobrir o Alberto Sordi magistral de Uma Vida Difícil (1961), a celebrar o carácter de aço que supera a guerra e a liberdade de imprensa, a prisão, embora Risi não resista ao controverso final agridoce, mas afinal de contas também tão italiano. Há que considerar ainda O Viúvo Alegre (1959), a outra colaboração de Sordi com Risi, a temperar a comédia e o drama com uma visão cáustica e satírica da sinuosa classe empresarial.

Antes ainda de O Viúvio Alegre, Dino Risi alcançaria um dos seus primeiros aplausos, com Os Galãs do Bairro, também de 1959, naquela que é também uma das expressões mais marcadas desse período de transição entre o atormentado neo-realismo e a necessidade de celebrar a vida na ‘comedia à italiana’. Um filme marcante que haveria de formar uma trilogia da juventude romana, juntamente o anterior Pobres Mas Belas (1957) e Pobres Milionários (1959).

Fazem ainda parte do ciclo, Sou Fotogénico (1980), sobre a procura desencantada do sonho no cinema, e ainda Golpe de Mestre à Italiana (1966), com Nino Manfredi e a única colaboração de Risi com Totó, este já bastante envelhecido, num mirabolante coup com gangsters americanos.

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