Wim Wenders ja viveu dias mais belos. Depois do exercício razoável de cinema literário inscrito em Os Belos Dias de Aranjuez, o cineasta alemão virou-se à procura de rumos diferentes, apostando agora forte num filme acessível e romântico, devidamente defendido pelas estrelas do cinema europeu rendidas a Hollywood, Alicia Vikander e James McAvoy. Submergence até promete bastante, mas infelizmente afunda-se como o submarino amarelo que por lá anda à procura de vida nas profundezas do oceano.
O problema maior nem será Wenders diretamente, mas de um guião tão ambicioso como incapaz de verdadeiramente agarrar a atenção do espetador, por sinal da autoria de Erin Dingham, a mesma que assinou a desastroso romance de The Last Face, de Sean Penn. Felizmente, aqui sempre estará uns furos acima, se bem que não apague essa má herança.
Vikander é uma oceanógrafa prestes a embarcar num submarino amarelo e ir ainda mais longe nas profundezas do oceano que encontra por acaso numa praia, um técnico de hidráulica de uma ONG (McAvoy), embora seja mesmo um espião contra-terrorista encapotado em rota de uma missão na Somália.
O embrulho é vistoso, só que depois desta história meter tanta água torna-se inevitável que o filme vá mesmo ao fundo. Em grande parte devido aos fios do guião que nunca se interligam verdadeiramente, mesmo com o esforço de montagem de Wenders a separar as duas narrativas em espaços e tempos diferentes. Um dos exemplos mais insólitos é mesmo quando um terrorista procura demonstrar a McAvoy, sem que daí se consiga retirar alguma conclusão, uma certa mortal retirada de Bambi, a famosa animação da Disney.
Ficamos assim algo confusos entre a angústia oceanógrafa sem notícias do namorado e este a tentar sobreviver ao mesmo tempo que convive com os terroristas que queria combater, em particular um ex-amigo de Osama, na personagem defendida por Reda Kateb (que Wenders recupera depois de Aranjuez).
É verdade que nos últimos dias, o nome de Wim Wenders andou nas bocas do mundo. Embora, não propriamente por Submergence, o filme que abriu o festival de San Sebastian, mas mais pelas referências inevitáveis a Paris, Texas, a propósito da norte de Harry Dean Stanton. Este é o problema de Wenders, é que cada vez mais o seu nome é referido a propósito dos grandes filmes que fez no passado, entre os anos 70 e 80, e cada vez menos, pelo menos não da forma mais positiva, dos seus mais recentes e erráticos projetos. Fazendo um breve exercício de memória, percebemos por exemplo que apenas os documentarios Pina e O Sal da Terra estarão ao nível do melhor que nos habituou, ao passo que filmes como Palermo Shooting e Tudo Vai Ficar Bem sejam apenas encarados como meros tiros dados no pé. Salva-se, talvez, Os Belos Dias de Aranjuez, pela sua ousadia de abrir o cinema a arte literária de uma forma conseguida.
É por tudo isto que num filme em que a água é o seu leit motiv – desde logo pela exploração marítima, mas também pela suposta missão humanitária de levar água potável a certas regiões africanas -, e em que se refere até que o ser humano é essencialmente composto de agua, um guião desequilibrado acabe por afundar não só o submarino amarelo como também o próprio filme.