Na era do politicamente correto, Princess Cyd, ainda inédito no nosso país, assume-se como um filme feminista que tenta responder de uma forma delicada a um conjunto de discussões urgentes da nossa sociedade. Assim seguimos a adolescente Cyd (Jessie Pinnick) na viagem para a tia Miranda (Rebecca Spence), uma famosa escritora que vive na casa onde cresceu em Chicago, e onde a sua mãe viveu também antes de morrer alguns anos antes. Face a uma depressão do pai, a tia aceita recebê-la durante algumas semanas. Desinibida, ao chegar à nova cidade Cyd acaba por se interessar por Katie (Malic White) que conhece numa cafetaria perto da sua nova casa.
O filme começa desde logo por expor diferente tipos de feminilidade: de um lado, Miranda, a escritora de sucesso cujo o amor pela academia, religião e bolos a salvaguarda da necessidade de ter algum tipo de relação romântica ou sexual com homens; do outro a jovem e atraente Cyd que procura explorar o desejo e sem entender porque a tia não partilha com ela o seu impulso; mas também Katie se distingue da neutralidade de Miranda e da sensualidade de Cyd, sendo muitas vezes confundida com um rapaz, apesar dela próprio não se importar com a definição de género e esta problemática se tornar numa questão irrelevante entre as outras duas mulheres.
O argumentista e realizador Stephen Cone traça aqui um curioso perfil de uma jovem adolescente disponível para a descoberta, à vontade mesmo num registo da comunidade literária próxima da tia que se reúne em tertúlia para partilhar a leitura de alguns clássicos. Cone recupera assim o tema da descoberta e do despertar da sexualidade já evidenciado nos seus anteriores trabalhos, The Wise Kids (2011) e Henry Gamble’s Birthday Party (2016). É claro que se torna também evidente alguma proximidade temática (e não só) com o muito celebrado Chama-me Pelo Teu Nome, com estreia marcada para esta semana. Por sinal, Princess Cyd será até um interessante filme-compaheiro.
Ainda assim, este é um retrato curioso servido por diálogos e ecos de algum feminismo, embora de uma forma relativamente apaziguadora e até superficial, percorrendo um espectro imenso e problemático do ser mulher na atualidade, mesmo que não se debruçe em nenhum aspecto específico, tornando-se num filme algo leve em contraposição dos temas que aborda. Ainda assim, Princess Cyd não deixa de ser relevante para aqueles que sentem que os temas referidos não são suficientemente abordados, ou não de uma forma tão educativa com se pode encontrar aqui.