Sim, este é o filme que provavelmente passará para a História como aquele que foi alvo de uma operação cirúrgica para amputar uma personagem – bastante relevante, diga-se -, apenas para contornar embaraços provocados pelas acusações de natureza pessoal que um dos atores foi alvo. Ou seja, onde um trabalho profissional, artístico, refira-se, foi colocado em causa por motivos pessoais. Perigosa coisa esta que nos coloca tão perto da censura, já tão dentro do século XXI.
A operação foi célere e eficaz. Tal como a decisão de Ridley Scott em erradicar do filme Todo o Dinheiro do Mundo a imagem de Kevin Spacey, entretanto caído em desgraça pelas acusações de implicação sexual que têm sido o fruto da época, a maior parte delas (se não quase todas) ocorridas há vários anos. É claro que tudo aquilo que se refere a processos judiciais, ou policiais, pouco interessa para aqui. Se bem que misturar a arte com a vida nunca ficou bem a ninguém.
Spacey foi então substituído por Christopher Plummer, numa decisão que Ridley Scott diz ter tomado num segundo. Do ponto de vista artístico – o único que aqui importa – Plummer é sempre uma boa decisão. E é apenas sobre ele que poderemos avaliar. E a sua dimensão de ‘Citizen Kane’ JP Getty que decide jogar com a sorte do neto raptado pela mafia italiana em vez de colaborar, como deseja a mãe, interpretada por Michelle Williams, através da intervenção do ‘operacional’ com o rosto de Mark Wahlberg.
É nesse jogo de bluff que Getty navega melhor, de resto foi também a agarrar a oportunidade que se tornou no “homem mais rico de sempre”. Só que acaba por ser o mesmo jogo do dinheiro a ditar a sorte e o destino deste filme. Que ficará para sempre marcado por essa mancha digital. Dito isto, Plummer até é o melhor do filme.