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No Coração da Escuridão: será que Deus nos vai perdoar?

Ethan Hawke, em First Reformed

Em No Coração da Escuridão temos a evocação espiritual (e até ambientalista) de Paul Schrader, talvez num dos seus filmes mais conseguidos e depurados. Inivitável será mesmo não encontrar aqui um reflexo, ou o oposto, da personagem de Travis Bickle, oferecida em Taxi Driver, embora atualizado pelas relações perigosas entre os grandes conglomerados e as organizações humanitárias ou religiosas.

Ethan Hawke é inabalável na figura do padre Toller, ele que também fora pai até lhe morrer o filho que encorajara para se alistar nas forças armadas. Agora dependente do álcool, dedica-se a escrever um diário de pensamentos explícitos durante um ano, antes de o destruir. Ethan Hawke é imperial a ilustrar as diferentes dimensões desta personagens complexa, seguramente numa das suas melhores prestações de sempre.

As suas convicções acabam por ser afetadas pela troca de impressões com um ambientalista radical que se recusa a ver nascer a filha num mundo condenado a prazo. Pelo meio, o conflito silencioso com a mulher deste (Amanda Seyfried), igualmente religiosa, que deseja ter a criança e que pede ajuda ao padre.

Schrader toca de novo notas altas por desenvolver um guião que assume ter sido impulsionado depois de um jantar em 2013 com o polaco Pawel Pawlokowski, o autor de Ida, e de concretizar o seu projeto espiritual a germinar na sua mente há meio século.

First Reformed é um filme de fé, dos seus limites, mas também dos conflitos dos homens. Talvez por isso a opção de uma estrutura formal muito marcada, em que a câmara serve de testemunha (de confessor?) aos dilemas que assaltam estas personagens. Seguramente, um filme destes tempos, seguramente da era Trump, em que o ‘aquecimento global’ é considerado como um incómodo não integralmente provado.

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