Veneza 75: Brady Corbert mostra-nos como nascem as estrelas do showbiz de hoje
Paulo Portugal
Era uma das grandes promessas da competição de Veneza75, só que o Vox Lux do muito promissor Brady Corbet acaba por não confirmar a excelente impressão da inteligência das primeiras sequências, que nos fizeram lembrar A Infância de um Líder, e não só por evoluir de 1999 a 2017. Talvez também porque este percurso na origem da fama e como ela se desenvolve nos dias de hoje necessita de baixar a fasquia. Como diz Celeste, “as minhas músicas são piores mas tenho cada vez mais sucesso”.
Um novo A Star is Born? Trilha um pouco esse caminho, embora esta estrela que nasceu a partir de uma tragédia, numa prestação muito conseguida de Raffey Cassidy, acaba cavalgar a onda do pop bimbo, depois do seu manager (Jude Law) a transformar na vedeta que o público deseja, sonha e paga. É nesse processo que estão todas as ideias. Isto porque quando esta estrelinha se assume e Natalie Portman assume o seu papel, é como se o filme desse meia volta. Portman faz o que pode para dar corpo a esta bimba que se deixa devorar pelo culto da celebridade. Terá sido o aconselhamento da artista SIA, com créditos no filme, provavelmente nas longas sequências musicais.
De certa forma temos até alguma ligação com o novo filme do alemão Florian Henckel von Donnersmarck, Never Look Away, também ele a assegurar a realização, argumento e, neste caso, também produção. Talvez porque aqui se segue o percurso da afirmação artística, talvez mais do que a fama, embora não esteja sequer afastada. Se bem que as cicatrizes da Alemanha estejam sempre à vista neste filme que fascina e seduz, mas que nunca abandona um lado demasiado seguro e asseptico. Há uma história de trauma, baseado em eventos reais, que envolve médicos nazis e a mãe de um jovem artista que herdou dela essa verdade de olhar para as coisas. Mas um filme que passa em revista os sinais dos tempos, desde o período nacional socialista, ao socialismo do pós guerra e a euforia da liberdade cristiva É esse diálogo com a História, esse trauma que se converte em arte que o torna fascinante, mas que acaba até com algum cinismo. Um pouco como dizia El Pepe Mujica, no filme de ontem, que o facto de ter estado provado de liberdade o tornou um homem mais lúcido.
Prestações fantásticas de Tom Schilling, no protagonista, e Paula Beer, na sua companheira, mas sobretudo com Tom Schilling, a encarnar o estilo e os tiques do passado.
Houve ainda uma deceção com Acusada, do argentino Gonzalo Tobal, a ensaiar um filme tribunal pela acusação de um homicídio imputado a Dolores (a estrela argentina Lali Esposito) pela morte de uma amiga na sequência de uma festa. O fascínio mediático de histórias deste tipo foi que seduziu o realizador a fazer este exercício que não colheu o agrado da imprensa.
Por fim, uma nota para mais um filme de Frederik Weiseman, Monrovia Indiana, exibido fora de competição. Isto apenas um ano depois de ter ganho aqui mesmo o prémio da crítica internacional com Ex Libris – The New York Public Library. Em mais um documento contemplativo e narrativo, Wiseman observa a comunidade rural de Monrovia, com apenas um milhar de habitantes, e os diversos aspetos do seu dia-a-dia. Fiel ao seu estilo, devolve-nos mais um documento que fixa um pedaço da América no tempo e no espaço.