Provavelmente, o filme que teria de ser feito – é assim que funciona a lógica do entretenimento. E talvez mesmo o homem indicado para o serviço fosse Paul Greengrass. Sim, o mesmo de Bourne Identity, mas sobretudo o de Sunday Bloody Sunday e do Voo 93, sobre o 11 de setembro. De certa forma, com o relato do ataque no dia 22 de julho de 2011, na Noruega, em que morreram 77 pessoas, o cineasta britânico prolonga o seu olhar realista naquilo que é também uma resposta a esse mesmo atentado.
É um olhar de intenção documental com a intenção de percorrer os principais eventos desse dia fatídico. Mas que começa até na véspera, com Breivik a preparar a bomba que haveria de deflagrar diante do edifício governamental. Depois, claro, há a matança no acampamento de verão do partido trabalhista. Body count: 77 pessoas, para além de algumas centenas de feridos, para além dos sobreviventes e o processo do monstro que acaba por sair até humanizado, por muito que não queiramos, e pelo cinismo de ter escolhido um advogado trabalhista, portanto o oposto da doutrina de direita radical que pretende defender.
Naturalmente, as opiniões sobre este filme que vem com a chancela da Netflix irão dividir-se (sim, there will be blood!). As opiniões dividem-se logo pela paixão dos eventos, pela opção de um cast norueguês, mas que fala inglês, ou até pela forma como se poderá até questionar a abordagem de Greengrass. Tudo é válido na discussão, se bem que o resultado acabe por ser bastante concreto, pelo menos do ponto de vista puramente informativo. De certa forma, um registo mais completo do que Utoya, 22 July, o filme que o norueguês Erik Poppe levou ao festival de Berlim e que foi filmado num único take de 71 minutos.
Mesmo sem ser tão intenso como Voo 93, justifica-se o filme que procura a autenticidade e faz-nos mesmo viajar para aquele dia fatídico.