O cinema de Jia Zhang-ke é feito de um eterno retorno, frequentemente pontuado por uma revisitação regular às suas geografias, sejam elas terrenas, musicais ou cinematográficas. Pelo menos a um certo cinema de perfil realista e social, em que não é alheia a presença obrigatória da sua atriz fetiche – e também mulher -, Zhao Tao. É como se criasse novos e deliciosos significados para o déja vu.
Em As Cinzas Brancas Mais Puras Jia recupera o universo do jianghu, esse mundo mágico de artes marciais presente nos clássicos filmes wuxia e a sua atualização até ao ao universo das tríades. Numa deriva de quase duas décadas, seguimos o destino de uma mulher (Zhao Tao) e o gangster Irmão Bing (Fan Liao), após a interrupção pelo tempo de prisão em que cumpriu cinco anos para salvar o amante.
De certa forma, este elemento temporal serve para fazer merecer o presente e sentir assentar a poeira do tempo e até para confirmar o romance. Sobretudo assumido por esse eterno feminino que Tao tem imposto no cinema de Jia com grande classe.