Os zombies estão a chegar a Cannes. Quando se iluminarem na tela as primeiras imagens do filme de abertura The Dead Don’t Die, também o primeiro em competição, o terror insólito reabre as portas de Cannes ao americano Jim Jarmusch, já aqui premiado por diversas vezes, e inúmeras vezes presente na seleção para a Palma de Ouro. O mesmo se passa com o cast de personagens da pequena cidade do interior dos EUA invadida por zombies. Adam Driver, Tilda Swinton, Bill Murray e Chloé Sevigny, entre outros, são chamados para lidar com um eminente banho de sangue.
Nessa altura, estarão até, porventura, apaziguados grande parte dos temas que foram animando conversas e motivaram algum barulho na imprensa, tal como a renovada ausência do festival da Netflix, Amazon e de outros parceiros das plataformas streaming; ou ainda as alterações ao horário das sessões de imprensa, como forma de evitar algum buzz negativo antes da equipa do filme, e até mesmo uma greve de taxistas que afetou bastante as chegadas ao aeroporto em Nice, no final da manhã desta terça-feira, início da 72ª edição do festival de Cannes. Enfim, já está tudo normal.
Mais inesperada é a incrível medida que permite o acolhimento das crianças dos profissionais do cinema que assim podem trazer os rebentos para o festival. Assim, para além do baby lounge, dentro do Palácio dos Festivais, onde os bebés e crianças podem ficar ao cuidado do educadores (em língua francesa e inglesa), existe ainda uma agência de baby-sitting especializada neste tipo de serviço, e ainda uma outra creche numa outra área dos festival, a Village Internacional.
A acreditação dos bebés dá mesmo direito um cartão e custa cerca de 50 euros pela duração do festival, com horários que incluem todo o dia (das 9h às 18h30). Para o ano, o meu filhote regressa a Cannes onde já foi feliz com seis meses, mas ainda essas benesses.
Amanhã volta tudo ao normal, com um elenco de luxo à conquista da Palma de Ouro deste ano, muitos deles já anteriormente premiados, como Ken Loach (Sorry We Missed You), Terrence Malick (A Hidden Life), Jean-Pierre e Luc Dardenne (Le Jeune Ahmed), Quentin Tarantino (Onde Upon a Time in Hollywood) ou Abdellatif Kechiche (Mektoub My Love: Intermezzo). Para além deste pesos pesados, a tremenda Seleção Oficial deste ano conta ainda com Kléber Mendonça Filho (Bacurau), Pedro Almodóvar (Dolor y Glória), Xavier Dolan (Matthias et Maxime) Marco Bellocchio (Il Traditore) ou Elia Suleiman (It Must Be Heaven).
Seguramente, uma tarefa tão complexa quanto excitante para o júri presidido pelo mexicano Alejandro Iñárritu, e devidamente acompanhado por distintos cineastas, como Kelly Reichard, Alice Rohrwacher, Robin Campillo, Yorgos Lanthimos, Pawel Pawlikowski, para além das atrizes, Elle Fanning e Maimouna N’Diaye e o autor de bandas desenhadas Enki Bilal. Agora venham os filmes. E a presença portuguesa bem composta em curtas – Cristèle Alves Meira (Invisível Herói) e Sofia Bost (Dia de Festa), marcam presença na Semana da Crítica, ao passo que Gabriel Abrantes, que o ano passado vencera a competiçao precisamente da Semada da Crítica, com Diuamantino, regressa a Cannes, mas desta vez na Quinzena dos Realizadores (Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre).