Antes de cumprir 33 anos, a espanhola Eva (Itsaso Arana, também cúmplice no desenvolvimento do guião) faz então o percurso contrário da maioria dos madrilenos, aproveitando a torreira de agosto para ficar em Madrid, apenas com os turistas e aqueles que não sentem necessidade de sair, aluga um apartamento solarengo e com uma fechadura gasta pelo uso e deixa-se ficar apenas receptiva ao que se passa em seu redor. O destino cruzar-se-á com o de várias personagens que a vão afetando de forma diversa.
Foi precisamente este lado ‘virginal’, esta ‘página em branco’, que nos chamou a atenção no filme presente na competição oficial do festival de Karlovy Vary, em estreia mundial, o que nos levou mesmo a procurar o realizador para uma pequena entrevista, em que ele descreve o “seu querido mês de agosto”, num processo “orgânico” de rodagem entre o dia 1 até 15 de agosto, durante as festas religiosas locais. Algo que se faz numa sucessão de encontros ocasionais, em que o ‘dolce fare niente’ permite uma fruição bem distinta do habitual afundar numa qualquer ‘silly season’.
O filme segue um registo de diário, mas acaba por nos desorientar no seu próprio desejo de se perder. Inevitavelmente, neste registo estival recordamos sempre Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, de 2008, também ele à procura das situações do acaso, embora na província, na região de Arganil, num registo de docuficção. Ou até uma espécie de antecipação das personagens da curta de David Pinheiro Vicente (que, curiosamente, entrevistámos há dois anos aqui em Karlovy Vary), como que visitando-as uns anos mais tarde, depois das descobertas da adolescência em Onde o Verão Vai (episódios da juventude).