Em 1969 (caramba, há 50 anos!) Hollywood cumpre o estretor anunciado pelo pequeno ecrã já nos anos 50. Uma oprotunidade de efeméride que Tarantino aproveita para celebrar o seu nascimento para o cinema, ou pelo menos o cinema que o marcou qual DNA maldito e arrevesado pelo lado mais obscuro da série B ou as alternativas do western spaghetti. Aliás, tem sido assim o seu cinema, um misto de celebração aggiornada de um cinema fora de moda, embora espevitado pelo inegável lado endiabrado de Quentin em lhe dar sangue novo. Nas bodas de prata de Pulp Fiction, o meio centenário de Woodstock, dos crimes Manson, vem este enfant terrible encenar a sua ode a Hollywood, sempre em jeito exploitation, ao cinema que já não se faz. Era uma Vez… em Hollywood é isso tudo. É o cinema a olhar o cinema, a perceber porque há coisas que valem a pena ressuscitar. Talvez para dizer que também há outras que não valem tanto a pena – como grande parte do cinema que hoje se consome.
Yes, Quentin Tarantino did it again! Ao longo das 2h39 minutos – sim não se perde nem um segundo – leva-nos a uma sensacional viagem através do cinema. Um filme potente, cheio de energia, cheio de cinefilia, cheio de música – sempre que se abre a porta de um carro, surge a oportunidade para fazer essa descrição sonora em mais uma banda sonora que promete.
Já se sabe, já vimos todos o trailer. Brad Pitt é Cliff Booth, o duplo de serviço de Leonardo DiCaprio, Rick Dalton, uma estrela do western televisivo. Um é disciplinado e vigoroso para que o outro possa ser alcoólico e inseguro. É nos anos 50 que começamos, em plena euforia da televisão, numa altura em que o cinema tem também a sua quebra maior e que procura todas as fórmulas para se reinventar. Do grande ecrã, para combater com o pequeno, os efeitos visuais. E vamos para o presente, 1969. E o que temos? Um Cliff um bocadinho ‘out of time’. É o western que se reinventa com as possibilidades que chegam da Europa, em Itália e em Espanha, o western Spaghetti ou o ‘dirty cinema’, vulgo cinema porno, que dava também os primeiro passos.
Como se imagina, Tarantino gosta do lado de época e aborda precisamente esse período – será que alguma vez daí saiu? – para nos fazer viver o lado meta do cinema. Há Playboy Mansion, há figuras reais como Sharon Tate (Margot Robbie) a atravessar todo o filme, Roman Polanski (o polaco Rafal Zawierucha), Steve McQueen (Damian Lewis), Bruce Lee (Mike Moh), numa cena hilariante com Rick (Brad), enfim, a mitologia que desenvolve uma história própria mas que não valerá a pena revelar ‘spoilers’.
É claro que nesta altura se torna desnecessário falar em previsões de prémios, embora se torna também claro que Quentin Tarantino deixou aqui um dos trabalhos em que vai mais fundo na sua conceção de um cinema ancorado no jogo de géneros, na revisão do passado mas que não deixa de inspirar o cinema mais jovem. E satisfazer a nossa cinefilia.
Espera, então temos um filme do Tarantino sem sangue? Calma: imagine-se então o resultado quando se junta uma seita, um cigarro embebido em LSD, um lança-chamas e uma cadela pit bull.
Era uma vez…