Há um enquadramento prévio, o de Gabriel (Roman Kolinka recuperado do anterior O Que Está Por Vir, e ainda com uma participação em Éden (2014) embora sem se revelar uma verdadeira interioridade da personagem), recém-libertado de uma experiência de cativeiro com milícias ISIS na Síria. Nesse processo de superação, e de pausa como repórter de guerra, decide partir para Goa, a terra da mãe hippie. É aí que encontra Maya (na estreia de Aarshi Banerjee), uma jovem precoce, filha do dono de um hotel que luta com a mudança dos tempos, e que apenas conhece duas palavras em francês: dégueulasse (seguramente ‘emprestada’ de A Bout de Soufle, de Godard, e oh, la la, que dispensa explicações). Para trás Gabriel deixa o companheiro de cativeiro Frederic (Alex Descas), ainda que um terceiro, Jerome, tenha ficado para trás. Depois há o verdadeiro filme, a redescoberta do amor no oriente, de certa forma algo desprendido desse passado anterior.
Percebe-se essa proximidade à mudança imprevista que passa por este filme e por outros, mas que aqui parece tornar-se menos convincente, desde logo pelo distanciamento que sentimos nas personagens – não o intencional, que se compreende, mas o desconfortável, por não funcionar – e por diálogos pálidos e previsíveis.
Talvez a nota mais interessante do filme seja a apresentação da descoberta Aarshi Banerjee, tão precoce quanto estranhamente emancipada na disponibilidade dos seus sentimentos, acabando por abrir o coração do jovem repórter sem vontade de romance e também sem carisma. Pena é que desse breve encontro nunca se eleve mais do que uma certa banalidade de emoções, tão simples quando as inúmeras viagens de scooter (embora nunca com a pertinência das que vimos em Caro Diário, de Nanni Moretti) ou dos mergulhos nas diversas praias da ilha que não recusam o mero bilhete postal.
É claro que não ajuda pensarmos nos Contos de Rohmer ou muito menos no deambular inigualável de O Rio Sagrado, de Renoir. O problema fundamental de Maya é mesmo não acreditamos nas suas personagens. Ou talvez elas – ou Mia – não acreditem na sua própria narrativa e se deixem esmagar pelo tom sereno da paisagem de Goa. Maya não será um filme dégueulasse, mas não deixa de ser algo falhado.