O documentário Zé Pedro Rock’n’Roll foi exibido em estreia mundial no DocLisboa, na secção Heart Beat. Agora só falta a descoberta pelos fãs do líder dos Xutos & Pontapés.
Zé Pedro Rock’n’Roll é isso mesmo, é um filme rock’n’roll, mas não o seria sem a força, o magnetismo e o carisma do Zé Pedro dos Xutos. No entanto, pelo momento particular em que surge este filme de Diogo Varela Silva acaba por assumir-se como documento de toda uma geração. No fundo, um movimento que ele próprio sintetiza. Sim, it’s only rock’n’roll (but i like it).
O nome José Pedro Amaro dos Santos Reis parece remeter para um certo anonimato, algo reforçado pela redução Zé Pedro. E seria de resto a sua simplicidade e proximidade com os fãs e as bandas do seu tempo (e não só) que acentuaria um profundo estatuto de rocker e performer. Este trabalho de constante procura musical seria entretanto reforçado pela parceria DJ com Henrique Amaro, da Antena 3, e a autoria do programa ‘Zé Pedro Rock’n’Roll’, na Radar, com Pedro Ramos. Ou seja, sempre a dar-nos música.
Por certo, Zé Pedro foi marcado pelas experiências. Terá contado certamente a de ficar ao largo de Hong Kong a admirar as luzes da cidade a bordo do paquete em que acompanhava o pai durante a sua estada em Timor, decorriam ainda os anos 60. Ou seguramente, o acordar para a revolução nas ruas no 25 de Abril, na efeverscência aos 18 anos, descobrindo ao mesmo tempo o movimento de massas (bem como a descoberta de outras passas). Pelo meio, sempre a música. Em particular o nascimento frenético do punk, com a ida ao festival de Mont de Marsan, em França, precisamente em 1977, que afinaria a agulha da banda pelo rumo certo.
É talvez esse magnetismo (e essa teimosa) que nos permite ultrapassar a mera recordação biográfica do guitarrista dos Xutos & Pontapés e abraçar um lado mais mitológico. Algo que já era realidade, mesmo antes de nos deixar a 30 de novembro de 2017. Não só pelo legado que é imenso, mas também pela visão, e a energia de seguir em frente, e sobretudo a dedicação total como abraçava a paixão pela música. Diogo Varela Silva, cineasta com provas dadas no registo musical, nomeadamente no fado, faz-nos navegar neste registo coerente, trabalhando com valiosos materiais de arquivo bem como pelos inevitáveis depoimentos de talking heads, de colegas e personalidades, na ótica de servir o artista e aquilo que foi o ar do seu tempo.
Para o final, o insólito e raro momento-cinema de Zé Pedro (sim, não era grande coisa como ator) num excerto da curta Um Dia Destes, de Edgar Pêra, invariavelmente no papel de músico, acompanhado por Anamar e pelo futuro cineasta Manuel Mozos. Sim, há muita coisa para recordar em Zé Pedro Rock’n’Roll.