Alcindo foi o vencedor do Grande Prémio Caminhos do Cinema Português na sua 27ª edição. O documentário de investigação e denúncia racista, assinado por Miguel Dores, que evoca a morte de Alcindo Monteiro, foi ainda considerado o Melhor Documentário. Catarina Vasconcelos venceu o prémio Melhor Realização, pelo trabalho em A Metamorfose dos Pássaros. Venceria ainda outros três prémios.
No capítulo interpretativo, Diana Silva foi considerada Melhor Atriz, na curta Luz de Presença, de Diogo Costa Amarante, ao passo que Pedro Lacerda, foi o Melhor Ator, pela presença nos filmes Terra Nova e Arte de Morrer Longe. A curta O Lobo Solitário, de Filipe Melo, venceu em três prémios (Melhor Banda Sonora Original, Prémio de Federação de Cineclubes e menção honrosa de júri da imprensa).
Alcindo acabou por ser um justo vencedor da 27ª edição dos Caminhos do Cinema Português. Um prémio necessariamente investido de uma inevitavel componente de denúncia racista e que atualiza a violência e o assassinato de Alcindo por grupo de skinheads, na rua Garrett, zona do Chiado, em Lisboa, decorria o ano de 1995. Na sua motivação, o júri considerou-o “um filme significativo, que através de um impressionante trabalho de investigação com recursos limitados, parte de um acontecimento particular cujo entendimento profundo implica refletir sobre o passado, o presente e o futuro do nosso país”.
Este primeiro homicídio com motivações assumidamente racistas no nosso país, foi agravado pelo simbolismo de ter ocorrido no dia 10 de Junho, dia de Portugal, ou dia da raça, para os herdeiros de uma quimera colonialista. Em face do recrudescimento de crimes e abusos de raça, o que começara por uma tese de mestrado em Antropologia, para Miguel Dores, acabou por assumir-se como um verdadeiro acto de resistência sobre os crimes xenófobos ocorridos em Portugal, como explicou o cineasta ao receber o prémio. Aliás, este não é apenas um documento de investigação sobre a morte do cabo-verdiano Alcindo Monteiro, mas a denúncia e ato de resistência sobre as sementes de violência crescentes e adornadas de uma violência policial de manifesta imposição racista que inclui diversas vítimas, até à mais recente que vitimou o ator Bruno Candé, em Moscavide.
Prémios XXVII Caminhos do Cinema Português
Secção Caminhos
Grande Prémio – Alcindo, de Miguel Dores
Prémio do Público – A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos
Melhor Ficção – Os Últimos Dias de Emanuel Raposo, de Diogo Lima
Melhor Documentário – Alcindo, de Miguel Dores
Melhor Animação – Seja como For, de Catarina Romano
Melhor Curta Metragem – Noite Turva, de Diogo Salgado
Prémio Revelação – A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos
Melhor Actriz – Diana Neves Silva, em Luz de Presença, de Diogo Costa Amarante
Melhor Actriz Secundária – Rita Martins, em Simon Chama, de Marta Sousa Ribeiro
Melhor Actor – Pedro Lacerda, em Terra Nova e Arte de Morrer Longe, de Artur Ribeiro
Melhor Actor Secundário – António Capelo, em Clube dos Anjos, de Angelo Defanti
Melhor Argumento Adaptado – Arte de Morrer, de Júlio Alves
Melhor Argumento Original – Os Últimos Dias de Emanuel Raposo, de Diogo Lima
Melhor Banda Sonora Original – O Lobo Solitário, de Filipe Melo
Melhor Caracterização – Sombra, de Bruno Gascon
Melhor Cartaz – Simon Chama, de Marta Sousa Ribeiro
Melhor Direcção Artística – Clube dos Anjos, de Angelo Defanti
Melhor Fotografia – O Nosso Reino, de Luís Costa
Melhor Guarda Roupa – Arte de Morrer Longe, de Júlio Alves
Melhor Montagem – Simon Chama, de Marta Sousa Ribeiro
Melhor Realização – A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos
Melhor Som – O Nosso Reino, de Luís Costa
FICC
Prémio D. Quixote – O Lobo Solitário, de Filipe Melo
Menção honrosa – A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos
Imprensa CISION – O Táxi de Jack, de Susana Nobre
Menção honrosa – O Lobo Solitário, de Filipe Melo
Ensaios
Melhor Ensaio Nacional – Camaradas de Armas, Catarina Henriques
Melhor Ensaio Nacional de Animação – Walkthrough, de Sofia Salt
Melhor Ensaio Internacional – Silent Zone, de Caren Wuhrer
Outros Olhares
Melhor Filme – A Nossa Terra, o Nosso Olhar, de André Guiomar
Menção honrosa – Mulher como Árvore, de Flávio Ferreira, Hélder Faria, Alejandro Vásquez, Daniela Cajiás e Carmen Tortosa