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Outsiders: ‘The Rider’ fecha com chave de ouro o ciclo de cinema independente americano

The Rider, de Chloé Zhao

‘The Rider’, de Chloé Zhao (‘Nomadland’) encerra o festival Outsiders dedicado ao cinema independente americano a decorrer no São Jorge. Por lá passaram Joe Swanberg (com dois filmes e uma ‘master class’), curtas dos manos Benny e Josh Safdie, além das visões pessoais e o estilo de Lena Dunham, Robert Greene, Patrick Wang ou John Magary. Para o ano queremos mais.

Ao longo do tempo, fomo-nos habituando à ideia de chamar cinema independente americano a tudo o que escapava ao crivo dos estúdios, à alternativa do made in Hollywood. No entanto, o festival Outsiders, com programação desenhada pelo curador Carlos Nogueira, que habitou o cinema São Jorge, em Lisboa, em parceria com a FLAD, a fundação luso-americana, permitiu precisar esses termos.

Sem querer generalizar, dizermos que foi possível apreciar um modelo de cinema feito de dentro, com muito recurso ao improviso, e com muitos poucos meios, e abrindo as portas ao subgénero mumblecore, em que a liberdade dos diálogos substitui o guião. Lá está, um cinema em que a vontade estética de expressar uma ideia em imagens supera largamente os propósitos de um produtor empenhado em alimentar uma indústria.

Foi bom perceber a origem da inspiração e talento de Lena Dunham, em Tiny Furniture, de 2010, ainda antes da série da HBO Girls, apostando numa inspiração em grande parte desenhada da sua própria experiência pessoal, assentando nas dúvidas de uma jovem após a conclusão da sua licenciatura. Vimos igualmente (foi mais um recuperar) o cinema dos manos nova-iorquinos Benny e Josh Safdie, sobretudo no formato de curtas, em que melhor se vê nascer o estilo duro que iria prevalecer em Good Time (2017) ou Diamante Bruto (2019). Perturbados ainda pelo estilo de Amy Seimetz, em Sun Don’t Shine (2012) ou a longa e inesperada jornada de In The Family, de Patrick Wang (2011).

Prestes a fechar-se o pano deste pequeno festival (pois desejamos que para o ano regresse, pelo menos, com a mesma forma), valerá a pena destacar o filme de encerramento The Rider, de Chloé Zhao, de 2017. Talvez pelo nome de Chloé Zhao permitir expressar os elementos mais fortes desta ‘independência’ ou os contornos que poderá formar. Por exemplo, com as escolhas de Chloé, depois de Nomadland, ao adaptar parte do imaginário desses dois filmes a um produto mainstream da Marvel, Eternals, nos antípodas do cinema independente americano.

Talvez uma razão suplementar para conhecer (quem ainda não descobriu) o fabuloso The Rider, Na verdade, com um filme com raízes até no filmes de estreia, na América profunda de Songs My Brothers Taught Me (2015)também eles provenientes de uma reserva índia. No filme de 2017, premiado na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, e com uma tremenda recepção da crítica coadjuvada por inúmeros prémios.

Aqui se narra o dilema de um cowboy em recuperação após uma fractura do crânio em virtude de uma violenta queda num rodeo. Só que essa dependência da adrenalina e o poder de tentar dominar, mesmo que por alguns segundos o poder daquele animal, leva-o a questionar as opções de vida e até a tentar regressar, com o risco da própria vida. Uma das referências que logo se nos colocou foi a do dilema semelhante que vive Robert Mitchum em Lusty Men, de Nicholas Ray, também aqui com homens (neste caso, rapazes) marcados pela vida e pelo risco da vida em rodeos.

Ainda assim, o que aqui mais impressiona é o domínio orgânico da imagem da câmara de Zhao, obviamente intoxicada pela beleza natural, no estado do Dakota, bem como a especial relação de Brady com os animais. Algo que se percebe que vai muito azar alem da mera representação e que descreve de uma forma inteligente a fronteira entre o real e a representação. Kudos portanto para Zhao e para esse cinema tão assente num lado sensorial – e que de certa forma, parece afectar também a sua nova aventura na Marvel, embora com outros meios.

E kudos para a FLAD pela iniciativa. Para o ano queremos mais.

 

 

 

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