O mundo entre muros, sem liberdade, focado em dois adolescentes remetidos a uma casa de correção no Chile, seduziu o júri da 34ª edição do Cinélatino, concedendo o Gran Premio Coup de Coeur, o mais importante do festival, ao filme Mis Hermanos Sueñan Despiertos, de Claudia Huaiquimilla. A sua câmara aproxima-nos destas uma história de adolescentes forçados a ser adultos. É assim que sonham acordados.
Trata-se de um cinema de resistência, de violência de cárcere, mas também de amizade e resiliência que traça a narrativa o destino dos irmãos Ángel e Pulga. É no dormitório 5 de uma prisão de menores que aguardam há já um ano o julgamento do seu caso. Este mundo é abalado pela chegada do revoltado Jaime, empenhado em abalar o sistema e encontrar um meio de fuga.
Esta é a segunda longa-metragem da cineasta de 35 anos, de origem Mapuche, descendente dos índios da região centro-sul do Chile, trabalho que sucede à curta de 2013, San Juan, la noche más larga, e à estreia no longo formato, com Mala Junta (2016), premiada no Cinélatino com o prémio do público. O filme de Huaiquimilla receberia ainda o prémio do público no registo de ficção.
O júri atribuiu ainda duas menções honrosas: a Eami, de Paz Encina, do Paraguai, num feliz registo onírico de fábula mitológica e sensorial, vencedora do Tigre do festival de Roterdão, em janeiro passado. É na zona do Gran Chaco, já marcada pela devastação, que Eami, uma menina de 5 anos, espécie de semi-deus da floresta, investiga os traços do povo Ayoreo Totobiegosode, perseguido e expulso das suas terras.
A outra menção honrosa foi para Camila Saldrá esta Noche, da argentina Inés María Barrionuevo. Ela que regressa a Toulouse, depois de ter apresentado em competição Atlántida, em 2014, agora numa nova evocação da ansiedade adolescente feminina, aqui com um eco que contemple as diversas lutas travadas pelas mulheres argentinas, em temáticas como a legalização do aborto e dos diversos abusos de que as mulheres ainda são alvo. De referir que Barrionuevo receberia ainda o Prémio Ciné +.
Os restantes prémios foram atribuídos a: El Árbol Rojo, de Joan Goméz Endara, com o prémio CCAS de ficção e ainda o prémio Rail D’Oc; o filme brasileiro Rio Doce, dirigido por Filipe Fernandes, receberia o prémio FIPRESCI, outorgado pela crítica internacional; La Calma, de Mariano Cócolo, recebeu o prémio da SCCC da crítica; a co-produção chilena-mexicana Inmersión, de Nicolás Postiglione.