Sim, 70 anos é muito tempo, como diz a canção. Muitos anos e muitos filmes a projectar. Ainda por cima depois de dois anos de pandemia. Portanto, havia muito a celebrar na abertura da 70.ª edição do Festival de San Sebastian, presidido pelo director José Luis Rebordinos. Por isso mesmo, foram também muitas as velas apagadas na sessão de abertura de gala, no serão da passada sexta-feira, com direito até a canção de aniversário e tudo. E uma montagem vídeo de tributo com imagens ainda dos tempos do período franquista, incluindo até o testemunho real de duas senhoras que estiveram na primeira edição em… 1953, antes ainda da exibição o filme de abertura Modelo 77, do cineasta sevilhano Alberto Rodríguez. Mas já lá vamos.
Importante é mencionar que, este ano, a cara do festival é da actriz francesa Juliette Binoche. Ela que receberá a consagração do prémio Donostia, entregue pela cineasta espanhola Isabel Coixet, e irá ainda promover o filme Le Lycéen, de Christophe Honoré, exibido na secção oficial, bem como Avec Amour et echarnemnet, de Claire Denis, cuja estreia mundial ocorreu no festival de Berlim, em fevereiro passado. O outro distinguido com o Prémio Donostia será o canadiano David Cronenberg, que apresenta o filme Crimes of the Future, já exibido em Cannes, prémio que será entregue pelo colega Gaspar Noé.
Infelizmente, a cerimónia que não pode contar com a actriz americana Glenn Close, que chegou a ser dada com Presidente do Júri, mas que teve de cancelar a sua deslocação ao Paris Basco em virtude de “problemas familiares”. O que não faltou foi a tradicional entrega do Prémio FIPRESCI (Federação Internacional da Crítica Cinematográfica), celebrando a escolha do filme do ano. Desta feita, para Drive My Car, do japonês Ryusuke Hamaguchi, uma fita revelada do festival de Cannes 2021, e que recebeu também o Óscar de melhor filme internacional. Por sinal, um realizador que foi já reconhecido no festival de Donostia quando, em 2008, o seu filme Passion foi exibido na secção de Nuevos Directores.
Marco Martins aguarda a sua vez
Entretanto, há uma grande expectativa para vermos a presença portuguesa Selecção Oficial, com a estreia mundial para a próxima terça-feira, dia 20, de Great Yarmouth: Provisional Figures, do português Marco Martins, o cineasta que viu o seu Alice ser premiado em Cannes em 2005.
Trata-se de uma história pouco conhecida em Portugal e que se desenrola três meses antes do Brexit, com os problemas de identidade de centenas de emigrantes que desembarcam na costa do Great Yarmouth, no Reino Unido, outrora uma estância balnear entretanto transformada numa zona fabril de processamento de carne de peru e galinha. Este é um filme que nasceu de uma coprodução no âmbito do FITEI (Festival Internacional de Expressão Ibérica) baseado em testemunhos de quem viveu de perto esta experiência.