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Nunca Chove na Califórnia: nunca, nem raramente, nem às vezes…

Nunca Chove na Califórnia, a premiada primeira longa de Jamie Dack, acaba de chegar à plataforma de streaming Filmin. E com o acompanhamento do hype de ter conquistado o prémio de realização em Sundance. Algo que haveria de empurrar o filme para um generoso percurso internacional. O problema é que este drama romântico promete uma tensão perturbadora, algures entre o jogo de sedução de uma rapariga ainda menor e um rapaz dom o dobro da idade dela. Promete, mas não cumpre verdadeiramente. O problema é que o filme se revela algo preguiçoso na forma como gere essas linhas de força. Algo que se agrava ao percebermos que se trata de um estudo mais apurado de uma curta metragem com o mesmo título e o mesmo tema.

Apesar dos registos de adolescentes losangelinos entediados e sem rumo serem quase um género em si mesmo, espera-se um pouco mais de um algo baseado nessa premissa. Ou seja, na exploração de uma variante do mito de Pigmaleão, onde uma jovem que idealiza a sua realidade em função dos seus desejos, acaba por limitar o trabalho da jovem Dack a um exercício de algum estilo que se confunde com muito e se distingue por muito pouco.

‘Nunca Chove na Califórnia’ (Foto: Filmin)

O tímido título português até poderia aproveitar a dimensão das relações de poder (as tais power lines), mas deixa-nos numa trama onde pouco se passa. Ou, pelo menos, algo de novo. Dack até tinha do seu lado a sua curta de 2018, com o mesmo nome, mas apenas a adorna de um certo niilismo sem remédio. Por aí passou o desígnio da jovem, Charlotte (Alyssa Latson), na curta, ou Lea (Lily McInerny), da longa, na sua aproximação ao homem de sonho que se revela ter motivos bem mais funestos, Tommy (Philip Alexander), na curta, e Tom (Jonathan Tucker), na longa.

Dack ilustra bem o vazio de uma geração, um pouco na linha de tantas personagens Gus Van Sant, Larry Clark ou até da narrativa do recente Nunca, raramente, às vezes, sempre, de Eliza Hittman, 2020, embora sem devolver a estas personagens a mesma espessura. Pois é, temos pena.

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