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Gianluca Farinelli sugere ‘blind date’ como ‘benção do cinema’

A 37ª edição do festival Il Cinema Ritrovato, que decorre em Bolonha de 24 de Junho até 2 de Julho, começou com um verdadeiro blind date. Nessa sessão esgotada por uma multidão de curiosos, foi servida uma seleção de curiosidades fílmicas – todas com bem mais de um século -, descobertas e restauradas pela Cineteca de Bolonha. Na apresentação de boas-vindas, o diretor artístico Gianluca Farinelli, acompanhado por alguns programadores, descreveu a proposta deste ano como uma espécie de “libertação pelo cinema e os filmes”. Segundo ele, essa pequena coleção de curiosidades históricas seria capaz de produzir uma “benção” para uma semana dedicada ao cinema de património.

O primeiro filme, com menos de um minuto, foi captado em 1900, por uma das primeiras câmaras de filmar amadoras. Mostra duas meninas que encaram a câmara. Sorriem e começam a imitar o movimento de rodar a manivela feito pelo operador, no que poderá ser considerado um dos “primeiros momentos de cinema que que importa registar”, como sugeriu Farinelli. Pois é aí que nasce verdadeiramente o cinema. Seguiu-se um filme colorizado com uma animação floral muito conseguida, confirmando como são as invenções que superam mesmo a própria invenção. Até porque permitiu, naquele início do século XX, viajar pelo mundo na sala de cinema. Por exemplo, para ver como se faziam os carros do passado, no caso do filme seguinte, o esmero com que se fabricavam as charretes, em Nápoles, famosas pelos preciosos arranjos esculpidos na madeira, aplicações metálicas e o tratamento cuidadoso na aerodinâmica das rodas. No final, como sugeriu o diretor do festival, são apresentadas num desfile como se fossem os Maserati, Lamborghini, Porsche ou Ferrari da época…

Jovens holandesas posam para a câmara (1903)

Em um dos filmes mais curiosos, vemos um grupo de jovens holandesas, no que parecer ser uma sessão fotográfica, embora com imagens em movimento. E até com a particularidade de ser um filme colorizado. As meninas exibem orgulhosamente lenços e chapéus. Foi ainda mostrado um olhar ao passado de Bolonha, em 1912, numa época de franca remodelação arquitectónica, mostrando carros elétricos e até uma bicicleta que supera um automóvel.

O programa incluiu ainda escassos segundos do ‘cinema Color’, com um efeito maravilhoso e esteticamente imponente, antecipando um outro filme sobre a história de amor entre um esqueleto e um homem. Até ao momento histórico e dramático, com o documento raro da deslocação e deportação do povo arménio em fuga do império otomano, em imagens exatamente iguais às que vemos hoje em dia em pleno século XXI, 130 anos depois do nascimento do cinema. O programa ofereceu ainda momento de humor que rivaliza e antecede em quase duas décadas a arte de Buster Keaton ou de Charlie Chaplin. A sessão terminou com um prodigioso número por uma famosa família de acrobatas capazes das proezas, transformando os mais pequenos em autênticas figuras de puro malabarismo.

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