De uma única noite agitada em que houve tudo em todo o lado ao mesmo tempo – futebol, política (eleições legislativas) e prémios do cinema – saíram os últimos vencedores dos Óscares. Infelizmente, algo que vai perdendo cada vez mais a sua razão de ser e que retirou parte do brilhantismo aos prémios do cinema. Embora o que se tenha visto foi apenas algo parecido com um déjá vu.
Na ressaca da edição e sem ter assistido à cerimónia (um exercício que se torna cada vez mais redundante e desinteressante), assinalam-se alguns apontamentos dignos de nota.
O primeiro diz respeito também à certeza mais previsível da noite, aquela que consagrou Oppenheimer, de Christopher Nolan. A mensagem subliminar parece dizer que os Óscares representam cada vez mais o peso de Hollywood. E peso a rima com milhões – ocaso do ‘Oppie do povo’, a caminho do bilião de receita global…
Por outro lado, sublinha ainda na gigantesca máquina patriarcal. Se não, vejamos, sete estatuetas masculinas para Oppenheimer: Melhor Filme, Melhor Actor (Cillian Murphy), Melhor Actor Secundário (Robert Downey Jr.), Melhor Realizador, Melhor Fotografia, Melhor Banda Sonora Original, Melhor Montagem. Adiante.
No capítulo interpretativo, as coisas também não surpreenderam. Pois que, pelo menos, as prestações, tanto de Bradley Cooper (Maestro), como de Paul Giamatti (Os Excluídos) revelaram mais da arte da interpretação que a de Cillian Murphy, curiosamente, no papel do inventor da bomba atómica (a tal ameaça que passou a estar na ordem do dia). Pouco diferente foi a coisa no lado do sexo feminino, com Emma Stone a bisar (depois de La La Land), pelo exercício garrido em Pobres Criaturas. Gorada foi a oportunidade de distinguir a prestação arrebatadora de Lily Gladstone, descendente da nação índia e nascida na Reserva de Blackfeet, em Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, que saiu da noite sem qualquer prémio. Não pelo seu DNA, mas pela prestação (e novidade!). Foi, digamos, mais do mesmo. Tal como a ousadia feminista de Barbie, de Greta Gerwig, pura e simplesmente ignorado pelos prémios. Ou seja, apesar de tudo – dos aparentes tempos de igualdade e reconhecimento – parece que pouco (ou nada) mudou em Hollywood.
Ainda assim, as poucas notas de denúncia dos tempos em que vivemos, foram bem usadas: bem esteve Jonathan Glazer, vencedor do Óscar de Melhor Filme Internacional, por A Zona de Interesse, ao recordar a situação em Gaza, apontando o dedo à desumanização vigente no terreno. O que motiva todas a s leituras possíveis ao realizador do filme sobre a vida de sonho do outro lado do muro do campo de extermínio de Auschwitz; a outra nota foi sublinhada pelo jornalista ucraniano Mstyslav Chernov, vencedor do prémio de Melhor Documentário, por 20 Dias em Mariupol, ao apelar para que não sejam esquecidos os mortos provocados pela invasão russa à Ucrânia. Por fim, o nome de Alexei Navalny foi o primeiro a ser mencionado no momento n memoriam, recordando as personalidades falecidas durante o ano em curso.
Para o ano haverá mais. Esperemos que seja diferente.
Palmarés
Melhor Filme: Oppenheimer
Melhor Realização: Christopher Nolan, Oppenheimer
Melhor Atriz: Emma Stone, Pobres Criaturas
Melhor Ator: Cillian Murphy, Oppenheimer
Melhor Atriz Secundária: Da’vine Joy Randolph, Excluídos
Melhor Ator Secundário: Robert Downey Jr., Oppenheimer
Melhor Filme Internacional: A Zona de Interesse
Melhor Banda Sonora Orignal: Ludwig Göransson, Oppenheimer
Melhor Canção Original: Billie Eilish e Phinneas O’Connell, What Was I Made For, por Barbie
Melhor Argumento Adaptado: American Fiction
Melhor Argumento Original: Anatomia de uma Queda
Melhor Montagem: Jennifer Lame, Oppenheimer
Melhores Efeitos Especiais: Godzilla Minus One
Melhor Som: Johnnie Burn e Tarn Willers, Zona de Interesse
Melhor Fotografia: Hoyte van Hoytema, Oppenheimer
Melhor Figurino: Holly Waddington, Pobres Criaturas
Melhor Cenografia: James Price, Shona Health e Zsuzsa Mihalek, Pobres Criaturas
Melhor Cabelo e Maquilhagem: Nadia Stacey, Mark Coulier e Josh Weston, Pobres Criaturas
Melhor Curta Metragem: A História Maravilhosa de Henry Sugar, Wes Anderson
Melhor Longa Metragem Documental: 20 Days in Mariupol, Mstyslav Chernov
Melhor Curta Metragem Documental: The Last Repair Shop, Ben Proudfoot e Kris Bowers
Melhor Filme de Animação: O Rapaz e a Garça, Hayao Miyazaki
Melhor Curta Metragem de Animação: War Is Over! Inspired by the Music of John & Yoko