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‘Que mulheres serão estas?’: São mulheres sob influência!

Gaya Medeiros e Ivo Canelas em 'Um Caroço de Abacate'

Uma das múltiplas respostas à pergunta formulada no título desta sessão composta por três curtas metragens portuguesas reflete alguns dos desafios femininos dos dias de hoje. São filmes da safra de 2022 que importa conhecer pelo assinalável percurso internacional que tiveram, com prémios em diferentes festivais. 

Se as quiséssemos distinguir, dir-se-ia que tanto Um Caroço de Abacate, realizada por Ary Zara, As Sacrificadas, de Aurélie Oliveira Pernet, ou By Flavio, de Pedro Cabeleira, exploram questões da libertação transgénero, o papel dos cuidadores informais familiares ou a exploração de uma sedução mediatizada. Esta exibição conjunta, proporcionada pela distribuidora No Comboio, confere-lhes a duração de uma longa-metragem, recebendo agora a possibilidade de ser vista e descoberta. E, claro, devidamente apreciada.

Dito isto, acrescentar que antes deste três-em-um apenas conhecíamos a curta de Pedro Cabeleira, o realizador mais experiente do trio, já com a longa Verão Danado, de 2017. Ary Zara estreia-se com a primeira curta, ao passo que Aurélie Oliveira Pernet conta com três curtas. By Flavio passou em concurso ao Urso de Ouro, Berlinale Shorts, um fórum onde o pequeno formato lusitano já foi feliz em algumas vezes, com João Salaviza (2012), Leonor Teles (2016) e Diogo Costa Amarante (2017). 

A sessão começa com um encontro inesperado em Um Caroço de Abacate, onde Ivo Canelas compõe um convincente hetero, curioso pelo apelo das ‘guerreiras’ noctívagas da Av. Conde Redondo. Ary Zara é justíssimo no irresistível approach de Gaya de Medeiros a Ivo, como que a sugerir que todo o amor é possível na noite lisboeta, superando a questão identitária e todos os tiques associados ao tema. Muito adequada foi a indicação portuguesa aos Óscares do ano passado e talvez o filme mais conseguido desta sessão.

Segue-se a sobriedade de As Sacrificadas, um filme corajoso pela forma como aborda a questão pouco falada de incendiários inimputáveis. É o dilema de uma filha que vê a sua vida limitada pela necessidade de prover à sua mãe a sofrer de perturbações mentais e com tendências incendiárias. De referir o trabalho espantoso de Valerie Braddell. Seguramente, uma forma muito clara de nos mostrar o reverso de mais um ano de desastrosas catástrofes ambientais.

Por fim, By Flavio e a forma muito credível como a vontade de afirmação social repousa na habilidade em cuidar da imagem. De um lado, a jovem mãe solteira apostada em conseguir dates com famosos que a possam ajudar na sua ascensão social; do outro, um rapper que se alimenta da carência de outros para criar o cenário ideal para um novo clip.

Depois de ver o conjunto, torna-se clara a riqueza de soluções criativas, estéticas e identitárias que atravessa o cinema nacional. Uma bela iniciativa que merece ter o seu público e que será melhor que muitas longas em exibição.

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