Insider

Plano Frontal:  Um Diário Visual de Melgaço 

Entre sessões, debates e workshops, destaca-se o programa de Residência artística, Plano Frontal, agregando jovens cineastas e fotógrafos de Portugal e outros países, no sentido de refletir e fazer cinema, explorando o espaço e criando novas memórias visuais. 

Todos os anos, a Residência acolhe três fotógrafos e quatro grupos de cinema, compostos por um realizador, operador de câmara e operador de som. Estes recém-formados em cursos de cinema e fotografia têm dez dias para conhecer o espaço, definir o tema e filmar. A ideia é, em pouco tempo, resolver o ‘enigma no território novo e desconhecido’. Após a Residência, segue-se um período de montagem para que no ano seguinte esses filmes possam estrear no festival MDOC, em conjunto com uma exposição de fotografia.  “O resultado final é muito importante. Os jovens precisam de saber que o caminho foi feito do início ate ao fim”, afirma o coordenador do Plano Frontal, Pedro Senna Nunes. 

E como começa este caminho? “Os participantes chegam a Melgaço, veem uma piscina enorme em frente da pousada e perguntam quando vai ser possível ir e mergulhar”, partilha o coordenador, “mas depois nunca têm tempo para ir à piscina, pois precisam de fazer pesquisas leituras, trocar ideias, fazer vários quilómetros por dia, lutando com calor de dia e o frio à noite. Apanham escaldões, deitam-se depois da meia-noite e levantam-se muito cedo”

Os participantes da edição do ano passado foram unânimes a relatar a intensidade desses dez dias, que mais pareceram 20. Incluíram exercícios, conversas, momentos de frustração e confiança. Para Pedro Senna Nunes, a exigência é “deixar o território equilibrado. O território é grande, mas é preciso ter cuidado ético, pois quando saímos de cena as pessoas vão falar umas com outras”.

Cada edição revela uma descoberta sobre diferentes histórias pessoais de músicos, pintores, criadores de artesanatos já encontradas anteriormente pelo Plano Frontal. Na inauguração do MDOC 2025, foram apesentados quatro filmes feitos no ano passado. Cada um com as suas valências e um modo de olhar a realidade. Por exemplo, o retrato poético Os Pássaros Mudam de Cor, criado por Beatriz Moreira, Rui Oliveira e Marta Oliveira, todos licenciados pela Universidade da Beira Interior. Trata-se de uma tentativa de captar através de sombras, águas e sons as nítidas transformações de espaço e as mudanças subtis na relação entre a população e a natureza.

Plano Frontal 2024, autores dos filmes apresentados na edição deste ano.

Duarte Rodrigues, Afonso Machado e Bernardo Agostinho, todos formados na ETIC, constituíram uma outra equipa portuguesa. O projeto PO-19-51 resulta num filme sobre três pessoas que partilham a mesma paixão pelos carros antigos. Já Fernando Oikawa Garcia, Lucas Coca Matias e João Pedro Filippini vieram do Brasil, da FAAP, de São Paulo, com o objetivo de contribuir com um equilíbrio entre o imaginário e o real. Dentro do território existente, criaram um território fílmico a que chamaram Diário de Lá, fazendo com que encontros físicos e efémeros se tornassem em mais um retrato de Alto Minho.    

Entre os quatro filmes do Plano Frontal, Contos do Minho merece destaque pelo seu género. Radek Ševčik, Petr Chromčák e Vojtech Javúrek, da Eslováquia. Mesmo sem saber falar português, fizeram um registo em forma de tragicomédia, em que a personagem principal era a perche que grava sons de vento, linhas de eletricidade e histórias. Conseguiram apanhar a realidade da região onde não há famílias sem alguém quem emigrou para França ou Suíça, famílias que esperam de que os imigrantes voltem. Mostraram que os três estrangeiros com uma câmara não são muito diferentes daqueles que maior parte da sua vida passou fora e já não pertencem ao lugar onde nasceram. Contos de Minho acaba por ser uma playlistgravada hoje, embora ligada ao passado de Portugal. 

A coleção do Plano Frontal conta já com 40 filmes. Alguns podem ser vistos na plataforma ‘Lugar do Real’ onde a Residência tem a sua pasta. “As histórias nunca se repetem”, explica Pedro Senna Nunes, “a nossa equipa sempre faz uma pesquisa e prepara uma lista que costumo enviar aos participantes na véspera do nosso encontro”.  Partilha também que “há anos quando todos os grupos querem trabalhar com a mesma história, mas este ano escolheram logo caminhos diferentes, a sintonia encontrou-se entre os fotógrafos que decidiram fazer tudo analógico. É a primeira vez que acontece, por isso, montámos um estúdio de revelar numa das cozinhas na pousada onde costumamos ficar”

Mesmo sem apresentar todos os temas abordados neste ano, percebe-se que para a próxima edição do MDOC poderemos esperar um retrato de arquitetura de imigração, um trabalho sobre o conceito de termas e outros enigmas de Melgaço. Até para o ano.  

Exit mobile version