Durante três dias, Riade, na capital da Arábia Saudita, recebeu a terceira edição da Internacional Film Critics Conference, organizada pela FIPRESCI e pela Film Commission saudita, transformando-se num espaço privilegiado para discutir as tendências sobre o presente e o futuro da indústria cinematográfica global. Críticos de cinema, cineastas, especialistas e diversas figuras do mundo do cinema partilharam laços culturais entre Ocidente e Oriente, mantendo intensas conversas, debates, reflexões e promovendo uma análise sobre o papel da crítica e as mudanças no panorama audiovisual.
Um dos principais oradores convidados, Carlo Chatrian, programador e ex-diretor artístico de festivais como Locarno, Berlim e atualmente diretor do Museu Nacional do Cinema em Turim, destacou precisamente a influência da crítica especializada, assumindo que é “influenciado pela opinião das críticas, mesmo não tendo mais tanto tempo para lê-las todas. Ainda assim, continuo a confiar na opinião de quem respeito, e depois faço meu próprio julgamento”.
Indagado sobre a relevância do crítico de cinema na atualidade, Chatrian foi enfático: “a crítica, como elemento curatorial, é uma forma de arte criativa”. Nesse sentido, reforça que o crítico pode atuar como um guia, ajudando o público a navegar por um mar de produções cada vez maior e mais diversificado: “Pode-se fazer uma curadoria tão poderosa quanto qualquer grande festival”, declarou.
Para Chatrian, os festivais de cinema ocupam uma posição central nesse ecossistema, funcionando como um filtro que seleciona obras relevantes em meio a uma produção global cada vez mais fragmentada. “Eles têm uma grande responsabilidade e um enorme poder na determinação do que será visto e reconhecido”, afirma.
Após o período da pandemia de COVID-19, entre 2020 e 2023, com um impacto profundo na produção de filmes e na narrativa cinematográfica, em “o cinema foi, de certa forma, uma arte moribunda durante a pandemia, refletindo uma certa tristeza e interioridade, com histórias mais sombrias”, Chatrian acredita que os cinemas tradicionais irão evoluir e adaptar-se às novas demandas do público. Embora admita que existe também uma mudança na natureza do que entenderemos por cinema. “Os cinemas possivelmente serão diferentes, não mais como eram no passado, tornando-se espaços mais destinados a públicos específicos”, referiu. “Sejam jovens que preferem filmes de super-heróis ou idosos que ainda mantêm o amor pelo cinema tradicional.”
Recorrendo à experiência de sua gestão em Berlim, destacou uma iniciativa inovadora: a criação da secção competitiva ‘Encounters’, um espaço para vozes novas, sem necessariamente seguir o modelo tradicional de competição. “Foi uma decisão ousada, que teve impacto em outras secções como o Panorama e até na Seleção Oficial”, comentou. Para o programador, essa experiência demonstra sua crença no valor de experimentações e na necessidade de reinventar continuamente o formato dos festivais.
Questionado se, após anos na curadoria de festivais, assiste agora a menos filmes, Chatrian respondeu com sinceridade: “Vejo agora menos filmes, mas vejo-os com mais atenção e de forma mais criteriosa, pois escolho-os antecipadamente”, assentiu. Ainda assim, mantém uma grande paixão pelo ato de assistir no cinema. “Ver um filme com o público, com a reação das pessoas ao seu lado, é algo que me dá muita emoção”, reconhece.
“Hoje, existe uma liberdade que nunca tivemos antes,” afirma. Pois acredita que se “pode fazer um filme sozinho, e com uma grande originalidade.” Apesar de admitir que a qualidade técnica evolui constantemente, seu foco mantém-se na transmissão de emoções e mensagens veiculadas pelo filme. “Não me preocupo tanto com os aspectos técnicos, mas com o que o filme transmite no final”, diz. “E emociono-me ao ver um filme na plateia com o público.”

