Tivemos ocasião de participar na 3.ª edição da International Film Criticism Conference, na cidade de Riade (entre 7 e 9 de novembro), na Arábia Saudita. Um dos principais convidados foi Mark Peranson, crítico, programador dos festivais de Locarno e da Berlinale (até 2024) e cineasta canadiano, partilhou, na sessão ‘Critical Crossroads’, conduzida pelo crítico libanês Chafic Tabbara, a sua visão sobre o panorama cinematográfico, o papel da crítica e dos festivais, bem como a sua experiência enquanto realizador.

O autor e editor da revista Cinema Scope, lançada há mais de 25 anos, começou por avaliar o significado da passagem para uma edição apenas online, descrevendo-a como uma decisão “mais prática do que ideológica”, justificando que “a revista estava a servir uma comunidade relativamente pequena”. A decisão foi, aliás, motivada sobretudo pela crise generalizada do mercado tradicional da imprensa. Ainda assim, Peranson mantém a crença na importância da crítica, embora lhe dedique menos tempo do que antes: “Acho que passo muito menos tempo hoje a pensar na crítica de cinema do que em 1999”, frisou. “Aliás, neste momento, não leio muita crítica de cinema”, admitiu, fazendo exceções: “Há certas pessoas que ainda leio, pois são amigos que conheço. E há muita crítica de cinema por aí, muitas pessoas mais jovens a escrever.”
Como admite, “uma pessoa normal que vá ver um filme não quer ler um ensaio de três mil palavras sobre esse mesmo filme. E muitos nem querem ler nada antes de ver o filme, o que dificulta a relevância de publicações que cobrem festivais com filmes de acesso limitado.” Peranson reconhece que a revista que dirigiu, com menos de mil assinantes em 24 anos, servia uma comunidade pequena, apesar dos preços acessíveis.
Necessária é a distinção entre a perspetiva do crítico e a do programador de festivais: “enquanto o crítico analisa filmes já produzidos com grandes orçamentos, já o programador lida com um volume imenso de submissões, muitas vezes sem tempo para ver todos os filmes na íntegra”, defende. Segundo revelou, enquanto programador chegava a ver cerca de mil filmes por ano, para além das viagens a festivais. Em algumas deslocações, a quantidade de filmes a analisar era tão grande que, por vezes, tinha de ver — ou, pelo menos, conhecer sumariamente — mais de cem títulos em três dias.
Mark Peranson admitiu que gostará verdadeiramente de apenas 15 a 20 das centenas de filmes que vê num ano, salientando embora que as decisões de programação são pragmáticas e visam agradar a públicos e patrocinadores, não apenas a si próprio. “Quando vejo filmes não analiso o filme, mas tento perceber o papel que este filme poderia ter no festival. Não tenho de amar o filme para o mostrar. Quando um realizador me mostra o filme, eu não descobri esse filme. O que fazemos é mostrar pontos de vista. É olhar para o presente e para o futuro,” diz.

O programador destacou ainda a importância de exibir perspetivas diversas, usando a história do cinema para analisar o presente e o futuro, e reconheceu a dificuldade de muitos realizadores em entrar em festivais, por falta de publicistas ou distribuidores. Para dar oportunidade a mais filmes, viaja muito e vê screeners das submissões.
Marc Peranson referiu-se igualmente à sua breve experiência enquanto realizador, segundo ele, um gesto despoletado pela curiosidade: a ideia de filmar nasceu da necessidade de “registar momentos e de explorar, de forma prática, o universo” que sempre observou como crítico e programador — algo a que prefere chamar “visual criticism”.

