PP, em Wroclaw
Toni Erdmann vinga-se de ter saído de Cannes de mãos a abanar, exceção feita para o prémio FIPRESCI. Faz agora o pleno nas cinco categorias a que fora nomeado. E Maren Ade celebra o feito de ser a primeira realizadora a vencer o Melhor Filme.
“Espero que continuemos a celebrar a diversidade do cinema europeu; é para isso que aqui estamos”, disse Maren Aden ao agradecer ovação pelo Melhor Filme para Toni Erdmann, que venceu a mão cheia de nomeações. E, pela primeira vez, uma mulher vence este prémio!, recordou a realizadora alemã. Parabéns!
“Europa, vai tomar banho!” Foi esta a frase mais marcante da abertura dos Prémios EFA, proferida pelo presidente da câmara de Wroclaw, alegando para uma expressão que repudia todos os ventos nacionalistas que sopram pela Velha Europa, terminando com um apelo para um futuro mais limpo, claro e brilhante. Mas não sem se estender uma enorme faixa com o símbolo da Europa no minuto final antes do início da cerimónia. Esperava-se, portanto, uma cerimónia política, conduzida pelo divertido ator Maciej Stuhr, em que se cantou Song for the Unification of Europe, numa interpretação inspirada na obra de Zbigniew Preisner, criada para a trilogia de Krzysztof Kieslowski Azul, Branco, Vermelho. Ele mesmo que vencera o primeiro prémio há 29 anos atrás.
Mencionou-se ainda o momento marcante para esta cidade que é ainda Capital Europeia da Cultura, mas que viu metade da sua população fugir durante a 2ª Guerra Mundial, tornando-se assim refugiada. Isto numa altura em que era ainda cidade alemã, passando depois, no final da guerra, para controle soviético e depois para a Polónia e que hoje em dia tem 20% da sua população é estudante. Mas vamos aos prémios.
Já se sabe, Maren Ade dominou a noite em todos os sentidos, com Toni Erdmann a arrecadar todos os prémios para que havia sido nomeado. Na verdade, um prémio que acaba por revelar alguma justiça já que a realizadora e também co-produtora de Miguel Gomes (Tabu e As Mil e Uma Noites).
Se um filme é, antes de tudo, uma história, o prémio de melhor argumento refletiu essa premissa ao conceder a Maren Ade a ousadia do seu guião que, por exemplo, levou a protagonista Sandra Huller a despir-se numa das cenas mais incríveis que vimos este ano. “É a parte de fazer cinema que mais gosto”, disse no seu agradecimento, acabando por dedicar o prémio ao pai, agradecendo-lhe “por me teres feito rir tantas vezes”.
O efeito de culto em que se tornou Toni Erdmann é, em larga medida, devido ao papel interpretado por Peter Simonischek, um ator austríaco de 70 anos, que consegue elevar-nos o espírito durante as quase três horas de duração deste filme dramático com um perfume constante de comédia. Ou será o contrário?
Ainda bem que escolhi este vestido e não aquele que usei no filme, disse a alemã Sandra Huller ao receber o prémio de interpretação em Toni Erdmann, cumprindo aqui o pleno de interpretação. Huller é impressionante na filha deste homem que decide recuperar um contacto mais humano e menos artificial com a filha.
No universo documental, a distinção foi para Fogo no Mar, do italiano Gianfranco Rosi, eleito como o melhor filme documental europeu. Isto depois de ter ganho, em fevereiro passado, o Urso de Ouro, no festival de Berlim, evocando a luta dos refugiados no Mediterrâneo que chegam a Lampedusa. Merecido, ainda por cima, no dia em que se celebram os Direitos Humanos.
Maria Alyokhina, uma membro da banda Pussy Riot, na prisão durante dois anos por uma música em que acusava Putin, evoca Oleg Stensov, o prisioneiro político condenado a 20 anos de prisão na Sibéria, tamém pelo “o home que espero que todos não gostem”, como referiu a artista, lendo um carta em que Oleg reinforçava a sua determinação de nunca ceder.
O Discovery Award, ou prémio FIPRESCI, concedido pelos filmes de novos realizadores foi para The Happiest Day in the Life of Olli Maki, sobre o famoso pugilista finlandês que concorreu ao campeonato de pesos ligeiros.
Inevitavelmente, o prémio de animação foi para a obra-prima Ma Vie de Courgette, do suíço Claude Barras, sobre um grupo de menores numa instituição de acolhimento, numa comovente adaptação da novela de Gilles Paris. Tal como também de previa que a curta 9 Days – From My Window in Aleppo viesse a ganhar o prémio respetivo, reforçado naturalmente por toda a carga política que encerra.
Wenders evocou a ausência de Andrzej Wajda “um realizador que não pode passar sem fazer filmes”, mesmo não estando, foi decidido dar esse prémio aos estudantes da escola de cinema local. Na evocação de Jean Claude Carrière, foi salientado o seu espírito instintivo, de acreditar nas primeiras ideias,
“Acho que fiz o que nasci para fazer” proferiu Jean-Claude Carrière, no seu vídeo sobre a homenagem que recebeu relativa à sua enorme e prolífica carreira de argumentista, onde se destaca a longa colaboração com Buñuel durante. E compara a escrita para cinema como “um insecto que não é ainda uma borboleta”. Referindo ainda, esqueci-me da gravata negra para a cerimónia. Tenho um laço no meu bolso, mas fica-me apertado…”
Palmarés 29º Prémios do Cinema Europeu
Melhor Filme Europeu – Toni Erdmann, de Maren Ade
Melhor Comédia Europeia – A Man Called Ove, de Hannes Holm
Melhor Descoberta Europeia – Prémio Fipresci – The Happiest Day in the Life of Olli Maki, de Juho Kuosmanen
Melhor Documentário Europeu – Fogo no Mar, de Gianfranco Rosi
Melhor Animação Europeia – My Life as a Zucchini, de Claude Barras
Melhor Curta Europeia – 9 Days – From My Window in Aleppo, de Issa Touma, Thomas Vroege, Floor van der Meulen
Melhor Realizador Europeu – Maren Ade, por Toni Erdmann
Melhor Atriz Europeia – Sandra Huller, por Toni Erdmann
Melhor Ator Europeu – Peter Simonischek, por Toni Erdmann
Melhor Argumentista Europeu – Maren Ade, por Toni Erdmann
Prémio do Público Europeu – Body, de Malgorzata Szumowska