Terça-feira, Outubro 8, 2024
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Falámos com James Mangold, o cérebro por detrás de Logan

 

ENTREVISTA

“O último X-Men custou metade que Logan”

 

Paulo Portugal, Berlim

 

Conversar com o realizador, argumentista e produtor executivo do filme do momento é como participar um pouco na sua conceção e decisões. O que nos permite ter a perceção de como nascem estes filmes. No caso, um filme de super-heróis que se descola dos pergaminhos do género, afirma personagens, não poupa na ação e… tem um orçamento bem menos pesado.

 

Podemos dizer que Logan é um filme humanizado sobre super-heróis, mas também melhor que a maioria dos filmes de super-heróis?

É claro que não queria fazer um filme pior que outros filmes de super-heróis (risos). Mas, humanizado, sim. Apesar de tanto eu como o Hugh (Jackman) estarmos muito reticentes na origem deste filme. Eu só queria fazer outro filme se fosse diferente. E por diferente queria que se assemelhasse mais com os meus outros filmes.

Pelo menos não teve de vender a imagem habitual que muitos poderiam esperar..

A verdade é que há sempre uma grande pressão financeira, há product placement, há ligações aos filmes anteriores, há ainda as expetativas e exigências dos fãs. Tudo isso é válido, quer estejamos preocupados com o lado financeiro, com os fãs. Mas não tanto com aqueles que são fãs de filmes de arte. Quando queremos cozinhar tudo, fica uma refeição demasiado calórica e impossível de tragar. É verdade que era um filme humanizado, mas era também, em grande medida, uma reação do que se estava a passar. Só queríamos que fosse algo diferente ao modelo da destruição eminente em que o herói de de fazer alguma coisa para o salvar. Não o fazer seria pisar o cliché.

Esteve também nas suas intenções fazer um filme que não fosse arrasado pela crítica, como sucede habitualmente com grande parte dos filmes deste género?

Pessoalmente, se calhar até alguns desses nem foram arrasados o suficiente… (risos) Ainda que este filme não tenha sido baseado em críticas, mas numa opção pessoal. É verdade que gosto de filmes espetaculares e de grande orçamento, mas também gosto de filmes independentes. Há filmes que custam 2 milhões por minuto, mas que me enchem os ouvidos de ruído e fazem-me revirar os olhos. Isso era algo de que me quis afastar. A minha resposta a isso foi apostar as personagens.

Até que ponto o sucesso de Deadpool, que foi feito com pequeno orçamento, foi importante para si?

Quando o filme saiu já estávamos em pré-produção. Apesar do estúdio já saber que o filme estava a correr bem meses antes. Em todo o caso, quando eu e o Hugh esboçamos as primeiras ideias já tínhamos concordado que tivesse a classificação R (Restricted, não aconselhável a maiores de 18 anos, ou 17 no caso dos EUA). Só depois percebi que essa classificação não era apenas pela violência, palavrões ou sexualidade, mas era sobre liberdade. Isto é importante porque quando uma entidade aposta neste investimento sabendo que terá uma classificação mais restritiva, impossibilitando que pessoas.

O que é alterado nesses casos?

Por exemplo, o marketing é mais cool, as cenas podem ser mais longas, as ideias podem ser mais profundas. Há uma mudança socio económica que ocorre com esta orientação mais para adultos, já para além da violência da linguagem. Já não é uma plataforma para vender action figures ou happy meals.

Talvez possa fazer um filme mais maduro e, também, menos dispendioso, não?

O último X-Men custou metade que Logan. Fizemos concessões no início do filme, mas o Hugh terá feito menos neste filme do que em outros. Estas foram concessões relacionadas com a classificação.

Acha que pode estar também a salvar o género com este filme?                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

Bom, isso é algo que você poderá dizer, mas eu não. Não vejo os filmes de super-heróis como sendo exclusivamente heroicos

Porque decidiu incluir no filme a referência de Shane?

É um filme que gosto muito. Mas é também um filme, um western, muito bonito, rodado essencialmente em exteriores e que representa também o elo da família, e questiona a possibilidade se podemos voltar a casa depois de sermos tocados pela violência. De várias formas, acabou por me tocar em relação ao Logan. Perceber se depois de termos cometido atos hediondos se poderemos redimir-nos, ou se a nossa única redenção poderá apenas ser encontrada a ajudar e proteger outros.

Como foi desenhada a participação da personagem da menina (Dafne Keen)?

Ante de mais li alguns comic books intitulados Inocence Lost, sobre a personagem Laura Kinney X23. Decidi que queria que ela fizesse parte do filme. Por outro lado, achei mais interessante dar ao Logan uma filha.

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