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Logan: goodbye, esta franchise não é para velhos

Quem disse que os super-heróis eram eternos? Não o são nesta espécie de interregno das aventuras de Wolverine afectadas por um intencional perfume de western clássico no qual Hugh Jackman se despede da personagem que envergou em mais de meia dúzia de filmes e ao longo de quase duas décadas. O que não significa que a franchise fique órfã, naturalmente. Até porque este ‘interregno’ não pretende reinventar a roda neste género de cinema espetáculo mais orientado para o público infanto-juvenil e apenas aproveitar para marcar o momento, escavando a tal maturidade bem calhada que agrada à crítica (pelo menos alguma), antes que tudo regresse ao normal modelo de produção da Marvel Studios.

Tendo em conta que Hugh Jackman participou diretamente na conceptualização da história, juntamente com James Mangold, para ensaiar com brio a sua própria morte – aliás, segundo declarações suas na nossa entrevista em Berlim -, terá pretendido combinar elementos western, mais evidentes na ligação a Shane, e menos evidentes, embora igualmente assumidos, a Clint Eastwood, e em particular ao final de Imperdoável, marcando claramente a maturidade de um projeto para tergiversar do público adolescente para o adulto. Sendo que, muito provavelmente, os mais gaiatos sempre teriam interesse em espreitar esta versão de Wolverine para adultos. Por certo, pensando que Logan navegava na onda de maturidade de Deadpool, o que nem sequer é verdade.

Seja como for, temos então um Logan humanizado, cansado, marcado, numa América “pós Trump”, digamos, à falta de melhor. Apesar de tudo, o seu corpo ainda conseguir regurgitar balas, embora se perceba que já está em fim de linha. Tal como Charles Xavier (o inevitável Sir Patrick Stewart), com problemas de bebida e dependente de medicamentos e de Logan. Ganha agora a vida como condutor freelance de limusinas passeando meninas à solta em despedidas de solteira.

Será precisamente uma menina (discípula?) que lhe ocupará a atenção neste filme onde todos parecem querer fugir para a fronteira do Canadá. Não dissemos que era um filme pós Trump? Ela é Laura (promissora Dafne Keen), um dos escassos representantes dos mutantes à procura desse local para se reorganizarem, naquele rastilho que, quem sabe, fica disponível para atear um novo futuro para X-men.

É nesta procura de raízes, do conhecimento de que passa de mentor para discípulo, à boa maneira americana, devidamente sublinhada pela referência a Shane, que Logan ganha lastro suficiente para se distanciar do mainstream super-herói. É claro que Mangold quis fazer um crossover, que resulta por si, mas ao integrar-se num ambiente específico do género acaba por lhe conferir uma maior espessura e renovadas possibilidades, mais humanistas e menos sobrenaturais, que poderão mesmo servir para o povoar e dotar de capacidades regeneradoras evitando o seu assinalado desgaste. Aproveita assim a estrutura clássica e aplicando-a a este ambiente. Digamos que essa operação de genética cinéfila até nem lhe fica mal. Logan é, por assim dizer, um mutante de si próprio que rejuvenesce a saga e a livra da decrepitude. Até porque este país (ou este género!) não é para velhos.

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