Parece mentira, mas aconteceu mesmo. No show mais globalizante à face da Terra, eis que o erro crasso cai como uma mosca na sopa. Nem mesmo um tweet de Trump teria tido o mesmo efeito. Numa inacreditável troca de envelopes, Faye Dunnaway e Warren Beatty, a dupla que se reunia na comemoração dos 50 anos de Bonnie & Clyde, lia o envelope para a Melhor Atriz, Emma Stone, por La La Land, entregando o prémio para o Melhor Filme. Assim se despontava o acontecimento mediático do século, acabando por tornar histórica a 89ª edição dos Óscares de Hollywood e motivando uma série de gags para as vindouras. Por momentos pareceu que Beatty estava gaga, mas não. Ainda assim, como se justifica essa troca de envelopes? Alguém terá de vir justificar o injustificável.
Mas, quiçá, não foi só o envelope do Melhor Filme trocado. Não teria sido trocado o do Denzel Washington por o Casey, ou o da Isabelle Huppert pela Emma Stone?… O que diz a Price Waterhouse Coopers?
Desde logo parece que a Academia fez ‘mea culpa’ ao tentar emendar a mão dos Óscares so White para uma escolha apressada que incluiu, por exemplo, no seu lote de nomeados para o Melhor Filmes, um filme sensaborão como Elementos Secretos, com a única intenção que acrescentar negritude aos nomeados. Ou mesmo Hacksaw Ridge.
Vá lá, La La Land safou-se da vergonha e lá assegurou o prémio para a realização do puto Damien Chazelle e para a atriz Emma Stone , bem como a componente de design e musical. E teve o ‘quase’. Teve também Moonlight, de Barry Jenkins, a recuperar parte da notoriedade crescente, averbando o Melhor Filme, ator secundário, Mahershala Ali (vemos ter mesmo de aprender a dizer este nome) e guião adaptado. Bem vistas as coisas, é La La Land quem sai derrotado, pois perde mais do que ganha e Moonlight o beneficiado, pois partia como patinho feio. De resto, a forma como ganhou só acrescenta alguma ‘panache’ ao ridículo. Mas, lá está, teremos de perceber o que realmente se passou.
Viola Davis também ganhou, como se previa. Se bem que não por uma personagem secundária, mas antes principal. Correu bem a operação de marketing nesse sentido. Talvez, quem sabe, se Denzel se tivesse rebaixado a secundário… Brincamos, é claro, embora a prestação de Viola Davis nada tenha de secundária. Ainda assim, Denzel acabou por ser padrinho de um casamento improvisado com os ‘penetras’.
Houve também tiros ao lado, como a escolha principal de atores, claramente desajeitada, a desmerecer a prestação arrojada de Denzel Washington, em Vedações, para a dorida, embora frágil de Casey Affleck, em Manchester By the Sea. E ainda Emma Stone, finalmente a ‘passar’ nas audições falhadas do filme de Chazelle. Mesmo assim, um papel sem a dimensão de Óscar.
O que tivemos mais? Tivemos Zootopia, no Óscar de animação, claramente a ganhar o efeito do público, numa muito renhida companhia de nomeados; tivemos ainda o melhor documentário para as quase oito horas de O.J.: Made in América, a tal estrela cadente do desporto que terá visto a cerimónia atrás das grades, onde enfrenta a pena de prisão de 33 anos de prisão. Não deixa de ser curioso, o desportista negro que desejava ser famoso, que privou mais com os brancos do que com os negros, que foi absolvido do crime de homicídio da sua mulher, Nicole, num veredicto que envolveu um sentimento de raça, mas que seria depois sentenciado por um suposto crime de assalto a um casino de Las Vegas. Esta tudo ali devidamente relatado com todos os pormenores e imagens de arquivo. É claro que I Am Not Your Negro também poderia ter ganho, num conjunto de documentários que reflete um pouco o estado e a história de lesão dos direitos humanos da nação americana.
E não se passou mais nada. Ou passou?
Palmarés da 89ª edição dos Óscares de Hollywood
Melhor Filme – Monnlight
Melhor Ator – Casey Affleck (Manchester By The Sea)
Melhor Atriz – Emma Stone (La La Land)
Melhor Ator Secundário – Mahershala Ali (Moonlight)
Melhor Atriz Secundária – Viola Davis (Vedações)
Melhor Realizador – Damien Chazelle (La La Land)
Melhor Animação – Zootopia
Fotografia – La La Land
Guarda-Roupa – Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los
Documentário – O.J.: Made in America
Documentário curta – The White Helmets
Montagem – Hacksaw Ridge
Filme Estrangeiro – O Vendedor
Banda Sonora Original – La La Land
Música Original – La La Land (City of Stars)
Design de Produção – La La Land
Animação curta – Piper
Curta – Sing
Montagem Som – Hacksaw Ridge
Efeitos Visuais – O Livro da Selva
Argumento Adaptado – Moonlight
Argumento Original – Manchester By The Sea