Tem a voz rouca, lábios carnudos e cabelos louros. É um símbolo sexual e, contudo, muito mais que isso. É conhecida como a icónica Black Widow, de The Avengers, mas o seu talento vai muito além da personagem do blockbuster da Marvel. Com Ghost in the Shell – Agente do Futuro acabado de chegar às salas, é a oportunidade perfeita para olhar para a filmografia de Scarlett Johansson e perceber que o que não falta é diversidade: de dramas históricos a filmes independentes passando por obras de grandes realizadores. Miss Scarlett tem, afinal, muitas facetas.
O Amor É um Lugar Estranho (2003)
Coppola – a filha – colocou Bill Murray e Scarlett Johansson num arranha-céus em Tóquio para falar do vazio emocional, da solidão e das relações, tudo com uma subtileza e sedução que torna este filme ainda mais magnífico. Bob e Charlotte são dois americanos que se cruzam num bar de hotel: ele é um ator de sucesso, ela está a acompanhar o marido que é fotógrafo. Juntos desenvolvem uma ligação de afeto e intimidade, que nunca se concretiza numa relação carnal, enquanto exploram o exotismo da cidade japonesa. Em Portugal, o título traduziu-se para O Amor É um Lugar Estranho, o que é bizarro e talvez até desadequado, dada a importância que o sentimento de estar “lost in translation” tem nesta obra que atesta o talento de Sofia Coppola e a atira para longe da sombra do pai. Quanto a Scarlett, o filme têm uma importância tremenda na carreira da atriz, sendo provavelmente o seu “breakout role”, já que foi com este título que ganhou o BAFTA e o Upstream Prize em Veneza.
Rapariga com Brinco de Pérola (2003)
Johansson está irreconhecível enquanto Griet, uma criada na casa do famoso pintor Johannes Vermeer (Colin Firth) que rapidamente se torna a sua musa inspiradora. Baseado no livro de Tracy Chevalier com o mesmo nome, Rapariga com Brinco de Pérola foi realizado pelo inglês Peter Webber e teve como diretor de fotografia o português Eduardo Serra – que aqui obteve a segunda indicação ao Óscar de melhor fotografia. Esta performance foi mais uma afirmação na carreira de Scarlett, que tinha então 18 anos e começava a dar o salto no universo cinematográfico, ao deixar os papéis de jovem adolescente e a ganhar cada vez mais projeção.
Match Point (2005)
É o filme que põe fim ao hiatos de quase uma década de obras menos boas de Woody Allen. Match Point vem reconciliar o realizador com a crítica e com a Academia – o filme acabou por ser nomeado para melhor argumento original. Curiosamente, numa entrevista à MTV a propósito do lançamento do filme O sonho de Cassandra, Allen revelou que a jovem de Nova Iorque não foi a primeira escolha para interpretar a protagonista de Match Point. Era nada mais nada menos do que Kate Winslet quem estava apontada para o papel mas, à última da hora, desistiu alegando que precisava de tempo para a família. E foi assim que Scarlett acabou por vestir a pele da fogosa Nola Rice, uma atriz que se envolve num “affair” com um ex-jogador de ténis profissional (interpretado pelo não menos brilhante Jonathan Rys Meyers). Este elegante thriller psicológico ganha pontos ainda pela evidente química entre os protagonistas, elevando ainda mais os diálogos sublimes que tanto caracterizam Woody Allen. É, além de um bom filme, uma das melhores interpretações de Scarlett, que aqui é tão vulnerável como incrivelmente sedutora. Valeu-lhe uma nomeação para o Globo de Ouro.
Vicky Cristina Barcelona (2008)
Trabalhar ao lado de Woody Allen terá sido uma boa experiência já que a atriz voltou a fazê-lo três anos depois e logo com dois filmes. Primeiro com Scoop, em que vestiu a pele de jornalista em busca de uma história (o filme viria a revelar-se um fracasso) e, depois, com Vicky Cristina Barcelona. Essa longa ode à cidade catalã, foi mais um passo para a confirmação da atriz enquanto musa do realizador. Scarlett é Cristina, uma jovem americana que vai com uma amiga, Vicky, interpretada por Rebecca Hall, passar férias a Espanha e ambas se apaixonam pelo pintor Juan Antonio (Javier Bardem). Neste drama, que explora os limites da liberdade e fidelidade e, ao mesmo tempo, capta o espírito de Barcelona, Johansson representa uma jovem espontânea, cria empatia, e tem, na verdade, uma prestação notável, mas acaba por ser ofuscada por uma Penélope Cruz irrepreensível naquele que é discutivelmente o melhor papel da sua carreira – e que se materializou na conquista do Óscar, que já ficara “prometido” dois anos antes com Volver (2006).
Her (2013)
Este drama de Spike Jonze – em português traduzido para Uma História de Amor – foi oscarizado no argumento original e não seria para menos já que a longa é sobre um escritor (Joaquim Phoenix) que se apaixona pelo sistema operativo do seu computador que responde pelo nome de Samantha. Uma personagem absolutamente invisível e que, ainda assim, preenche tanto. Scarlett é a voz que guia o escritor – e a audiência – com tanto pulsar e verdade que chega a um ponto em que ninguém se lembra que não a vemos. São duas horas sobre a vida, o futuro próximo e, em última instância, sobre o amor, em que Scarlett ultrapassa a qualidade geral do filme numa performance – puramente vocal – extraordinária.