Protagonista de O Vendedor, de Asghar Faradi
Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, O Vendedor centra-se na história de uma mulher vítima de abuso sexual depois de ter de mudar de habitação com o marido, visto que o seu apartamento está em risco de ruir. O casal trabalha nessa altura numa representação amadora de Morte de um Caixeiro Viajante e a sua nova casa fora antes habitada por uma mulher de má reputação. Taranesh Alidoosti é a atriz fetiche do realizador Asghar Faradi, que recusou ir a L.A. receber a sua estatueta dourada. Em Cannes, na estreia mundial do filme, estevivemos a conversar com a atriz, filha de uma lenda do futebol iraniano.
Já vem de longe a sua relação profissional com Asghar Faradi…
Tem de perguntar-lhe porque é que de cada vez que faz um novo filme me oferece um papel. Mas é verdade que desenvolvemos uma linguagem comum. Damo-nos muito bem e sinto-me muito mais à vontade a trabalhar com alguém que já conheço tão bem. É uma honra voltar a trabalhar com ele, em especial num filme como este.
O cinema iraniano é conhecido mundialmente. Mas olhando para a sua filmografia vemos que trabalhou com imensos cineastas que não são tão conhecidos. A situação do cinema iraniano deve ser bastante positiva para uma atriz…
É verdade que há um grande grupo de cineastas iranianos de talento a trabalhar no país que o resto do mundo ainda não conhece. Há tantos jovens cineastas emergentes. O cinema alternativo está a crescer. Mais tarde ou mais cedo também vão ser vistos.
No ocidente fala-se muito dos problemas de censura, mas por outro lado há esse movimento de que fala…
É verdade que há censura. Um argumentista ou um realizador tem de pedir autorização para fazer o seu filme. Mas não é tão mau como se diz. Toda a gente sabe o que não pode fazer. Há coisa muito simples que se têm de respeitar. Há coisas que são proibidas. E há outras que são sensíveis, mas podem ser negociadas. E em muitos casos o que se propõe é aceite. É uma discussão aberta, não é nada de completamente fechado. Se soubermos negociar e se soubermos ver as coisas do lado deles, torna-se mais fácil.
E o que pensa da situação da mulher no Irão? A perspetiva que temos no ocidente é justa?
Se vissem todos os filmes percebiam melhor como é que a mulher viva na sociedade iraniana. Há filmes em que se pode ver como é que uma mulher moderna vive hoje no Irão. Ou como uma mulher consegue ser cineasta ou artista. Como em todo o lado, há ainda muita coisa a fazer. Mas estamos mais avançados do que o ocidente pode imaginar.
Identifica-se com o percurso da personagem que interpreta no filme?
Foi um dos papéis mais fáceis para mim de compreender. É uma mulher como eu. É uma atriz e consigo identificar-me com o estilo de vida que leva numa cidade como Teerão. Eu também vivo lá. E apesar de não ter vivido o que ela viveu, não me é muito difícil de imaginar. Todas as mulheres já imaginaram o que seria se algo assim lhe acontecesse. Já todas lemos nos jornais histórias de mulheres que foram vítimas de agressões sexuais.
Sendo atriz e conhecendo já um pouco do mundo, acha que mudou, em função do contacto com pessoas de outras origens, outras culturas, outras formas de pensar?
Viajar pelo mundo dá-nos uma outra perspetiva. Mas mesmo antes de ser atriz já viajava muito, porque o meu pai era jogador de futebol. É claro que é importante para a forma como vemos o mundo e também para o trabalho que eu faço. O meu pai agora é treinador e tenho a certeza que conhece muitos jogadores e treinadores portugueses.