Um dos maiores desafios do culturismo de alta competição passa, confirmamos agora com este curioso documentário, atravessado por alguma ficção, do canadiano Denis Coté, por um exercício de pura observação. Não só pela observação dos próprios e dos treinadores pelo exercício operado diante do espelho, medindo o equilíbrio, a postura, o alinhamento dos músculos, o acetinado da pele depois de devidamente esfoliada, mas também a observação de que vão ser alvo, pelos membros do júri na competição importante que se aproxima, bem como por nós espetadores num exercício que tem muito mais do que voyeurismo.
Ta Peau Si Lisse (na tradução sugerida A tua pele tão lisa) segue assim o dia-a-dia de exercício metódico de um grupo de body builders e respectivo treinador. O realizador que já filmou em Lisboa um segmento de Aqui em Lisboa – Episódios de uma Cidade (2015), parece até completar um exercício semelhante captado em Bestiaire (2012), um outro documentário em acerca da observação mútua entre seres humanos e animais.
É um filme sereno, tal como as vidas de Jean-François, Ronald, Alexis, Cédric, Benoit e Maxim. Mesmo quando às vezes estão a treinar, mesmo quando estão em família, com uma ou duas raras excepções. A ideia foi também retirar os atletas fora da sua zona de trabalho, talvez como uma forma de perceber como esta pode ser também uma vida normal. Nesse sentido, Ta Peau si Lisse funciona.