Lars von Trier, o nome. Por si só, parece garantir um património sério de interesse. Desde logo ampliado pela trapalhada racial que o demonizou há anos quando foi corrido do festival de Cannes pelas suas tiradas nazis. Há que conhecer a fragilidade do homem, mas também a sua involuntária sinceridade para perceber o que queria dizer quando disse o que disse. Pois foi no regresso de Lars a Cannes que de novo recebeu toda a atenção, devidamente redobrada, claro está, quanto mais não seja por já ter avisado que o seu novo filme seria sobre um serial killer. Agora em língua inglesa e com Matt Dillon no papel do vilão sanguinário que se dediciou a fazer composiçções post mortem dos cadávers que ia colecionando. Pois foi também pela sua atitude primária de abusar dos requintes de malvadez que o filme se perdeu nas entrelinhas.
Lembram-se de Haneke em Funny Games, como ele nos provocava em casa instante naquelas cenas de tensão insuportável? Pois esqueçam, que aqui não é isso que se passa. Por muito que o velho Lars o desejasse. É claro que era isso que ele queria, ao mostrar os atos mais vis de violência sádica, num chorrilho de encenações que gradualmente vão perdendo a força. Depois há a presença de Bruno Granz, uma espécie de narrador desta comédia dantesca que o leva aos diferentes círculos do inferno. Só que nessa altura, já a Casa que Jack quis construir se desmoronou. Porque a ergueu na fragilidade do mais óbvio ou gratuito. Tivesse-a erguido com aquilo que nos afeta verdadeiramente e tinhamos outro filme. Assim não.