Antes mesmo da passagem de Zeroville aqui no Donistia Zinemaldia (ou festival de cinema de San Sebastian) James Franco já fora sido notícia quando se soube que o filme já havia estreado na Rússia. O resultado foi a retirada do filme da seleção competitiva para a Concha de Ouro, impedindo-o assim de repetir o prémio ganho em 2017 com The Disaster Artist, Um Desastre de Artista. Razão pela qual, talvez Franco tenha decidido não vir a Donistia. Seja como for, no jogo de palavras a que se prestam ambos os títulos apetece dizer que Zeroville convive demasiado próximo com a eminência do desastre.
Sejamos práticos, Franco tem talento mas não é Tarantino. Porquê a comparação? Na verdade só existe dada a coincidência de ambos abordarem nos seus filmes mais recentes o mesmo tema da New Hollywood – precisamente o ano de 1969, e em particular, a referência ao assassinato de Shaton Tate. No entanto, a proximidade de Era uma Vez em Hollywood, ou com Quentin Tarantino, fica por aí. A não ser que consideremos Franco como uma versão ‘Tommy Wiseau’ (o ‘pior realizador do mundo’ que encarna em The Disaster Artist) do próprio Tarantino, pois é inacreditável como Franco desbarata todo um manancial de cinefilia, sobre o nascimento do movimento New Hollywood, ao assumir uma atitude punk que passa a inventar uma realidade paralela (não que tenhamos qualquer preconceito contra esta brava forma de música, muito pelo contrário, que permitiu até à música sair do marasmo em que se encontrava no final dos anos 70). Aliás, em certa medida, terão sido mesmo cineastas punk aqueles que aproveitaram as ‘novas vagas’ que chegavam da Europa desde o final da guerra e que ajudaram a enterrar o tal ‘old Hollywood’.
Zeroville até poderia ser um filme interessante sobre a cinefilia, sobre o novo movimento que transformou Hollywood nesse período . E o início do filme até parece ir nessa direção. Franco é Vikar, um homem que sai virgem de um asilo da Europa. Hollywood é o seu destino depois de ter visto o seu primeiro filme, Um Lugar ao Sol, com Montomery Cliff e Elizabeth Taylor. A certa altura veremos até o mano Dave Franco a convencernos que é Monty. A devoção de Vikar por Monty e Liz é tal que decide mesmo fazer uma tatuagem de ambos na nuca. Começará a trabalhar como carpinteiro de sets mas rapidamente se converterá num montador maverick.
Através de um amigo (o inevitável Seth Rogen) que interrompe uma cena de rodagem do filme Love Story, talvez um marco do cinema convencional, a assinalar o ponto de viragem daqueles que estavam fartos da guerra do Vietname e ansiavam por um novo realismo no cinema, passará a privar em gestas com Spielberg, Scorsese, Coppola no momento em que estes equacionam ideias sobre os filmes que haveriam de fizer (sim Tubarão, Taxi Driver, Apocalypse Now..). Até aqui, tudo mais ou menos bem nesta breve lição de cinema.
As coisas correm menos bem quando percebemos que Franco nunca sabe muito bem o que fazer com Megan Fox (e talvez ela com a sua própris carreira) pois mais não faz que passear o seu look de vamp com lábios brilhantes. Pelo meio há ainda uma série de ideias falhadas a par de inúmeras referências cinéfilas – caramba, há até um assaltante que se intromete na casa de Vikar mas que se deixa ficar para assistir a Sunset Boulevard (e explicar até o significado do filme a Vikar). Mas o pior mesmo é um final que é um autêntico desastre. Fica assim um filme alucinado (ganzado?) que parece direccionado a adolescentes, ou caloiros da escola de cinema. Só assim se justifica a opção por este estilo ‘fast food’ cinélifo. Enfim, assim é também que inevitavelmente James Franco se converte num desastre de artista.