Tiny Furniture foi um delicioso aperitivo para o que nos espera no ciclo ou festival Outisders, a decorrer na sala São Jorge, em Lisboa, até ao próximo dia 8. Até porque revela o melhor do estilo independente nova-iorquino de que Lena Dunham é uma das vozes mais conseguidas.
De Dunham habituámo-nos a reconhecer e apreciar o seu descontrolo doce, acompanhado de um empenho criativo e de dúvidas existenciais. Sempre dentro de um registo de diálogos naturalistas, muito improvisados, no melhor mumblecore. Apesar de ser provavelmente mais conhecida da série da HBO Girls (2012-17), na verdade, é em Tiny Furniture, de 2010, que vemos moldar-se esse grupo de personagens, como Jemima Kirke, Alex Karpovsky ou Adam Driver, embora esse já com um caminho entre o cinema independente e o blockbuster.
De resto, o filme segue um registo semi-biográfico, com referências familiares muito directas. Desde logo, na personagem da mãe fotógrafa (verdadeira mãe) com particular interesse em peças de mobiliário em miniatura – a tal ‘tiny furniture’ – além da irmã Nadine (Grace Dunham, verdadeira irmã). Aura apresenta-se no loft da mãe na ressaca da licenciatura em cinema. “Agora preciso de descansar”, declara quando pede para viver com elas. Acaba de terminar a licenciatura em cinema teórico e chegou à seguinte: “agora preciso de descansar”. E arranjar trabalho.
O registo é o de uma abertura para a cena arte de Nova Iorque, bem como para a vida como um permanente improviso em que as personagens vão aceitando com placidez as suas escolhas. Mesmo as mais risíveis, como a personagem do ‘Cavaleiro Nietzscheano’, assumida pelo amigo Jed (Alex Karpovsky, que também entrará em Girls), sempre à espera de uma grande resolução de vida.
Tiny Furniture é o típico filme de procura, de rumo. Mas que no caso de Lena Dunham se percebe claramente que é essa a marca que fará dela uma das vozes mais originais do cinema independente americano.