A notícia que ninguém quer dar tem de ser alinhavada com aquela frieza dos obituários: morreu Rogério Samora. Isto depois de o seu corpo ter sucumbido após paragens cardíacas que em grande medida impossibilitaram as suas faculdades. Tinha 62 anos. Cai assim, cedo demais, o pano sobre aquele que tão bem tinha personificado o estilo marcante de um actor. Foi assim, no teatro, na televisão, e, sobretudo, no cinema.
Não há muito mais a dizer, a não ser que Samora viverá sempre através do seu vastíssimo trabalho em relações muito produtivas nos filmes de alguns dos nossos melhores realizadores. Por exemplo, Fernando Lopes, com quem rodou O Delfim (2002), encarnando Tomás da Palma Bravo, talvez a sua maior personagem. Rodaria ainda La Fora (2004), 98 Octanas (2006) e Sorrisos do Destino (2009). Com Manoel de Oliveira seria ainda mais regular, em participações constantes. E logo em Le Soulier de Satin (1985), e depois em Os Canibais (1988), A Caixa (1994), Party(1996), Palavra e Utopia (2000), Porto da Minha Infância (2001), O Quinto Império – Ontem como Hoje (2004) e Singularidades de uma Rapariga Loura (2009). João Botelho também o captou pela sua câmara, tal como António-Pedro Vasconcelos (Aqui d’el Rei, Jaime e Os Imortais), Bruno d’Almeida, Joaquim Leitão (Adão e Eva), Jorge Paixão da Costa, José Fonseca e Costa (Viúva Rica Solteira Não Fica), Luís Filipe Rocha, Manuel Mozos (Xavier), Miguel Gomes. E a lista não se ficaria por aqui. Isto só no cinema, sem falar da sua longa carreira em telenovelas.
Trabalhador incansável deixou-nos, ainda por ver, Amadeo, de Vicente Alves do Ó, sobre o artista futurista Amadeo de Souza Cardoso, e Sombras Brancas, de Fernando Vendrell, sobre José Cardoso Pires, justamente um filme que nos reconduz a O Delfim. Sim, o Delfim és tu.