Urso de Ouro entregue ao francês Sur L’Adamant, de Nicolas Philibert. Roter Himmel, do alemão Christian Petzold, vence Grande Prémio do Júri.
E, no final, a notícia mais relevante saída da 73ª edição do Festival de Berlim é mesmo aquela que destaca a vitória de Mal Viver, de João Canijo, com o Urso de Prata, correspondente ao Prémio do Júri, um dos mais valiosos da cerimónia de encerramento. Apesar de Canijo nos ter confidenciado, ainda antes do início do festival, que “a vitória é estar presente nas duas competições”, o reconhecimento pelo júri presidido pela actriz americana Kristen Stewart sublinha a excelência do seu cinema e o alto nível do jogo de representação. Um prémio que, dificilmente, poderá separar-se de Viver Mal, o seu filme-espelho, a concurso na secção Encontros, ainda que fora dos prémios.
De Urso de Prata na mão, e depois do agradecimento ao produtor Pedro Borges, da Midas, e à direcção da agência Portugal Filmes (Miguel Valverde e Ana Isabel Strindberg), Canijo evocou a tremenda equipa de interpretação: “Para finalizar, a equipa quase toda feminina, às mulheres que deram a vida para este filme”. Desde logo, a fotografia de Leonor Teles, mas também “às atrizes que me deram tudo, deram-me a sua vida”.
Ainda assim, o grande vencedor da noite foi o francês Nicholas Philibert, pelo seu Sur L’Adamant, com o Urso de Ouro. Diga-se que galardão apenas assina a justeza da premiação assente “no que determina o valor da arte”, sublinhando o interesse do “tom humanista e a vitalidade da expressão humana”, procurando aquilo “que define um filme”. Estes foram os argumentos para anunciar um cinema assente num reflexo da realidade. No caso, de um centro de acolhimento para indivíduos com doença mental.
O restante palmarés oficial contempla o cinema do alemão Christian Petzold, com a tragicomédia Roter Himmel/Afire, numa esclarecida e tocante midsummer nights’s dream, em que se combinam elementos diversos elementos de storytelling, como o horror, o filme de verão tipicamente ‘rohmereano’, envolto num ambiente de criação artística visitado por um incêndio florestal.
O francês Philippe Garrel recebeu o Urso de Prata por Le Grand Charriot, sobre uma família com uma tradição no teatro de marionetas. Um trabalho minucioso pela forma como filma o lado da representação e o legado da arte, onde se percebe a ligação autoral da família Garrel. Talvez por isso, ao receber o prémio, Philippe dedicou-o a Jean-Luc Godard, “o grande mestre”, recordando o prémio que o filme Alphaville ganhara em Berlim em meados dos anos 60.
Ainda assim, um dos momentos mais comoventes de noite, foram os prémios de interpretação, independentemente do género: de resto, ambos os prémios sublinhando precisamente essa desnecessidade de especificação de género: com o prémio de interpretação principal para Sofía Otero, no papel da jovem que não aceita ser rapaz na produção espanhola 20.000 Especies de Abejas, na primeira longa de ficção da basca Estibaliz Urresola Solaguren (vencedora, o ano passado, em Vila do Conde com a curta Cuerdas), bem como a interpretação secundária entregue a Thea Ehre, em Till the end of the Night, no papel de uma mulher que anteriormente fora homem.
Além da presidente do júri Kristen Stewart, o restante júri oficial era composto pela atriz iraniana Golshifteh Farahani, a realizadora alemã Valeska Grisebach, o cineasta romeno Radu Jude, a diretora de ‘casting’ americana Francine Maisler, a realizadora espanhola Carla Simón e Johnny To, cineasta de Hong Kong.
Palamarés 73ª edição do Festival de Berlim
Competição
Urso de Prata Contribuição Artística – Fotografia, Hélène Louvart (Disco Boy)
Urso de Prata Argumento – Angela Schanelec – Music
Urso de Prata Melhor Interpretação Secundária – Thea Ehre (Till the end of the Night)
Urso de Prata Melhor Interpretação – Sofía Otero (20.000 Espécies de Abejas)
Urso de Prata Melhor Realizador – Philippe Garrel (Le Grand Charriot)
Urso de Prata Prémio do Júri – Mal Viver, de João Canijo
Grande Prémio do Júri – Roter Himmel, Christian Petzold
Urso de Ouro Melhor Filme – Sur L´Adamant, Nicolas Philibert
Encounters
Prémio Especial do Júri (ex aequo)
– Orlando, My Political Biografy, de Paul B. Preciado
– Samsara, Lois Patiño
Melhor Realizador – Tatiana Huezo (El Eco)
Melhor Filme – Here, Bas Devos