Segunda-feira, Abril 29, 2024
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No interior do Casulo Amarelo: do céu caiu-nos uma jóia

Há filmes para os quais não estamos preparados. Poderá ser o caso desta primeira obra vietnamita, vencedora da câmara de ouro, o ano passado em Cannes, e que agora estreia nas salas. Ou talvez até estejamos, caso a disposição seja algo para fruir com otimismo, serenidade e um sentido de descoberta para um filme que intromete de forma subtil na narrativa elementos de perda, da fé e do sentido da vida. Isto ao longo de uma paciente, minuciosa e alongada mise-en-scène que liga sequências de alguma banalidade a um universo maior. É entre esses momentos que a câmara parece levitar, empurrando o filme de uma banalidade urbana para uma inesperada dimensão espiritual.

A casualidade de um acidente fortuito, presenciada por Thien e os amigos em Saigão ligará este jovem a um destino para o qual não estava preparado. Sobretudo depois de perceberá que nesse acidente morreu a sua cunhada ficando ele encarregue de cuidar do sobrinho de cinco anos que sobrevive ao acidente. Ao procurar o irmão dele, e pai da criança, há muito afastado da família, o jovem acabará por fazer uma viagem em que aqui se interroga sobre o peso da espiritualidade, ao longo das três horas que passamos No Interior do Casulo Amarelo

Mas voltemos a Thien. Neste caso, Thien An Pham, o nome do realizador vietenamita, embora a viver em Houston, no Texas, que aos 34 anos realizou este filme que procura o nosso encontro. Embora, diga-se, sem uma ponta de influência do cinema americano. Correção. Haverá uma, lá mais para o meio, em que é feita uma referência, sem que nada o deixasse antever, ao filme de Frank Capra, de 1946, Do Céu Caíu uma Estrela. Surge num momento romântico, entre Thien e uma amiga que abraçou a ordem eclesiástica como freira. Os dois deambulam num edifício em obras durante uma chuva torrencial. Ao escutar o som de um sino, a jovem repete a frase proferida por James Stewart “sempre que toca um sino um anjo recebe as suas asas”. E questiona-se: “porque é que já não fazem filmes assim?”, confessando que chora como um bebé sempre que vê essa sequência.

Mesmo que Casulo Amarelo esteja bem distante do ambiente de Capra, ainda assim, esta velada homenagem vem de alguém que conhecerá o seu cinema, embora sem deixar que a influência deslize para o seu trabalho. Pelo contrário. Percebe-se que Thien, o realizador, manteve-se completamente fiel às suas raízes. Seja quando recorda o passado da guerra civil, numa sequência admirável, em que a câmara faz um milimétrico travelling para diante ao longo de uma conversa entre ele e um velho ancião, chegando ao plano aproximado no momento em que o velho recorda o tempo de guerra com os vietcongs. Ou a conversa com uma velha senhora que lhe fala do além, e de outras vidas, mas sem perder o timbre de uma serenidade quase tímida da língua vietnamita. Ora, é nessa viagem que podemos mesmo perceber que no céu nos caiu uma jóia de filme.

No Interior do Casulo Amarelo
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