Quinta-feira, Junho 5, 2025
InícioCinemaEstreiasBird é um filme que ganha asas!

Bird é um filme que ganha asas!

Bird foi um dos melhores filmes que vi em 2024. Veio integrado na secção ‘Pérolas’ no festival de San Sebastian, depois deste novo filme da britânica Andrea Arnold ter sido um dos mais bem recebidos em Cannes. Desta feita, num regresso à ficção depois do desconcertante documentário (ainda que muito intenso) Cow, de 2021. 

Nesta nova exploração centrada nos desafios da adolescência e juventude, Arnold regressa a Gravesend, uma localidade em Kent, no estuário do rio Tamisa, no sudeste da Inglaterra. E também ao core do seu cinema profundamente realista, abordando questões sociais, na linha dos anteriores American Honey (2016), Fish Tank/Aquário (2009) e Red Road/Sinal de Alerta (2006).

Seguimos Bailey, uma menina de 12 anos, na tremenda revelação da estreante Nykiya Adams. Ela que é forçada a navegar no seio de uma família totalmente disfuncional e onde sente a responsabilidade de ser o ‘adulto na sala’. O irmão mais velho, Hunter (Jason Edward Buda), fruto de outra ligação, vai oscilando entre a maturidade adulta, embora contrariada por uma tendência para a violência. No entanto, o pai, ‘Bug’ (Barry Keoghan), é o elemento mais imaturo que apenas acrescenta um nível superior ao caos emocional em seu redor. Ele que surge de trotinete, corpo repleto de tatuagens e com o seu ‘sapo leiteiro’, que, supostamente, o ajudará a traficar droga e permitir-lhe viver ‘à conta’. 

Vivem todos numa espécie de república comunitária decorada com grafitis. Mas quando ‘Bug’ lhe apresenta no seu futuro casamento, isso acaba por provocar um embaraço suplementar a Bailey, sentindo-se algures presa entre a infância e uma inesperada responsabilidade. Como hipótese de fuga para um mundo só seu, Bailey vai criando vídeos no seu telefone que espelham um mundano com ‘bugs’ (insetos) e uma vontade de magia.

Numa das suas deambulações pela cidade, conhece o enigmático ‘Bird’, numa prestação ao melhor nível do sempre surpreendente Franz Rogowski, também ele um espírito livre à procura do seu pai. É ali que Bailey encontra essa irmandade, bem como uma possibilidade de dar largas à fantasia, como forma de contrastar com a realidade sombria que está cansada de viver.

É aqui que Andrea Arnold revela toda a sua habilidade na combinação que faz de uma realidade tintada pela fantasia, conseguindo assim atingir, uma vez mais, um patamar fora do comum numa narrativa sempre colorida com uma câmara hiperativa e servida pela melhor banda sonora, em tons hip hop e trap, embora combinada com Oasis e Verve. É nesse ritmo que Arnold levanta voo também, e nós com ela, embalados pelo ritmo contagiante desta deriva juvenil, e pela tremenda empatia que acabamos por sentir por todas as personagens, mesmo quando estamos a falar de adolescentes não profissionais. 

O filme atinge o clímax no momento certo, na festiva sequência final, com a festa de casamento do pai. É nessa enorme sensação de liberdade que surge também ‘Bird’, como que, talvez, a dizer que não serão assim tão diferentes um do outro. E a segredar-nos que, afinal de contas, todas as familiares excêntricas possuem os seus pequenos monstros. 

YepBird é uma pequena pérola que ficará, seguramente, como um dos grandes registos fílmicos do ano.

Bird
RELATED ARTICLES

Mais populares

Bird foi um dos melhores filmes que vi em 2024. Veio integrado na secção 'Pérolas' no festival de San Sebastian, depois deste novo filme da britânica Andrea Arnold ter sido um dos mais bem recebidos em Cannes. Desta feita, num regresso à ficção depois do...Bird é um filme que ganha asas!