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A Princesa e o Sapo: John Musker e Ron Clements

Paulo Portugal, Londres

Chegou finalmente às nossas salas a mais recente animação musical da Disney, que inverte a adaptação do famoso conto de Grimm, transformando em sapo, não o príncipe, mas uma rapariga negra de Nova Orleães (voz original de Anika Noni Rose) que terá de ser beijada pelo verdadeiro Príncipe Naveen (com voz original do brasileiro Bruno Campos). Este resultado que acaba por ser nomeado para o Oscar de Melhor Animação, para além de ver dois temas de Randy Newman igualmente distinguidos, sobreviveu a diversas fases de gestação, durante quase duas décadas, até que a dupla John Musker e Ron Clements apresentou a sua versão definitiva, num celebrado regresso à animação 2D. O resultado é visualmente vibrante e altamente satisfatória a evocação do ritmo “jazz”, “gospel” e “cajum” da Nova Orleães dos anos 30.

encontrou-se com a dupla criativa no Soho Hotel, em Londres, e confirmou que o futuro da animação não abandonará o lado mais tradicional. E que foi precisamente John Lasseter, qual príncipe encantado, a dar o beijo que a ressuscitaria. Walt Disney ficaria agradecido.

Porquê tanto tempo até ao desenvolvimento definitivo de “A Princesa e o Sapo”?

John Musker – De forma algo surpreendente, este projecto esteve em desenvolvimento nos estúdios Disney há 18 anos. Em diferentes versões desde o tempo de “A Bela e o Monstro”. Até a Pixar desenvolveu ideias para a mesma história em animação computorizada, numa versão durante os gangues de Chicago dos anos 30. Curiosamente, foi o próprio John Lasseter quem decidiu localizar a história em Nova Orleães, a sua cidade predilecta. Só quando o Ron e eu regressámos à Disney há 3 anos e meio, com Lasseter já à frente do estúdios, que nos pediu para rever essas versões e avançar com uma ideia. Foi aí que nasceu esta versão musical em ambiente afro-americano.

Não deixa de ser interessante ser o John Lasseter a impulsionar este projecto que poderá revitalizar a animação tradicional…

JM – É verdade, já quase dávamos por extinto o cinema de animação tradicional. O Michael Eisner tinha-lhe virado as costas e a própria administração da Disney estava inclinada a abandonar definitivamente a animação tradicional.

RC – Muita gente afirmara que a animação tradicional estava acabada. Nós apenas pensámos que estivessem mortos, mas na forma como algumas personagens Disney, como a Branca de Neve, estavam mortas. Possivelmente, apenas à espera que um príncipe as viesse trazer à vida. Nesse sentido, John Lasseter foi o príncipe que beijou a animação tradicional e lhe deu vida nova. Ele teve a ousadia e a paixão de a trazer de volta para o agrado de muitos animadores que o desejavam. Felizmente, gosta tanto da animação desenhada à mão como nós, independentemente de todo o sucesso com a animação por computador.

Nota-se em aqui um estilo de animação muito próximo à animação mais clássica da Disney. Foi uma opção intencional?

RC – Esteve sempre presente a intenção de regressar ao tipo de animação tradicional da Disney. Nesse sentido, os filmes que mais nos inspiraram foram “Bambi” e “A Dama e o Vagabundo”, tanto do ponto de vista do desenho das personagens, como dos cenários. “A Dama e o Vagabundo” mais para as cenas de Nova Orleães e “Bambi” para as cenas do Bayou. Mas acaba por existir semelhanças entre ambos.

Que elementos da Disney clássica mais os interessaram?

RC – Interessou-nos sobretudo a ideia de pedir desejos às estrelas, o tipo de vilões, mas também todo o lado musical. Tudo devidamente acompanhado por um pequeno “twist”.

 
John Musker e Ron Clements na Comic-Con 2009

Percebe-se que trabalham bem em conjunto. Como descreveriam o vosso trabalho, que vai da elaboração do guião à realização?

RC – No fundo, é um prolongamento do que fizemos em “A Pequena Sereia” e “Aladdin”.

JM – Escrevemos o guião em conjunto, mas como fazemos várias versões, eu acabo por improvisar algumas cenas, já o Ron é muito bom a desenvolver a estrutura da história, unindo as diferentes partes. Acaba por dar a essa ideia o tratamento em mais de cem páginas. Depois eu vejo esse material e tenho a minha reacção. Finalmente, quando entramos em produção, dividimos o filme em diferentes sequências. Eu faço algumas e o Ron faz outras. Depois, dirigimos as vozes dos actores, o trabalho dos animadores, o estilo de cor a usar. Por fim, somos responsáveis por sequências diferentes. Por exemplo, eu supervisionei a cena musical do vilão Facilier, ao passo que o Ron foi responsável pela cena musical da Mama Odie e da Tiana. Acabamos por ter áreas diferentes dentro do filme, mas sempre com um trabalho complementar no fim, com a música e a cor.

Sabiam desde o início que queriam trabalhar com o Andreas Deja?

JM – Sim, sim. Tal como em quase todos os filmes que fizemos. Ele é um excelente animador e claro que queríamos tê-lo a bordo neste filme.

RC – Começámos a trabalhar com ele em “Papuça e Dentuça”. Já trabalhámos com vários animadores, mas claro que temos os nossos favoritos.

JM – Mas como há tantos filmes a fazer ao mesmo tempo, nem sempre é possível ter os animadores que queremos.

RC – Também muitos animadores tinham já passado para animação em computador. Felizmente, quase todos quiseram regressar à animação tradicional neste filme, porque gostam. Isso permitiu-nos ter uma espécie de “dream team”. Tanto de animadores, como de efeitos especiais, de cenários. Uma equipa muito forte.

O casting parece ter sido outro “dream team”. Anika Noni Rose, Terrence Howard, Oprah Winfrey… Foram as vossas principais escolhas?

JM – Como queremos ter sempre os mesmos actores a cantar e a fazer a voz, fizemos logo esses testes. Esse é sempre uma parte divertida do casting. O mesmo se passa com a Pixar. Para o John Lasseter não quisemos mostrar grandes estrelas, mas os melhores actores para cada voz.

Foi difícil de convencer a Oprah a cantar?

JM – (risos) Não foi nada difícil.

RC – Mostrámos-lhe a história numa primeira fase, para ela ter uma ideia. Por outro lado, é uma personalidade afro-americana muito importante. Adorou a história e queria fazer uma voz. Está óptima como a Eudora, a mãe de Tiara. E também o Terrence Howard para contracenar com ela.

Há mais ideias a germinar na Disney para uma nova animação no sentido mais tradicional?

JM – Sim, claro. Só que isso pode durar três ou quatro, que é a média de um filme de animação.

RC – Talvez daqui a três anos…

Há portanto futuro para a animação clássica!

JM – Sim, achamos que sim. É esse o nosso objectivo e a nossa esperança.

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