Diogo Costa Amarante recebeu o Urso de Ouro pela curta Cidade Grande. E assim Portugal bisa em Berlim. Crise no cinema Português? Mas qual crise?!
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Pronto, já está! A Berlinale nº 67 acabou com a chave de ouro. E que enorme edição foi esta, que não precisou de estrelas de Hollywood a desfilar pela passerelle, centrando assim a atenção totalmente na escolha dos filmes. Foi uma das melhores edições de que nos lembramos onde o nível médio foi igualmente dos mais elevados. Teresa Villaverde ficou-se pelo prémio de participação na Seleção Oficial, com Colo. Foi como ela disse na nossa entrevista “é uma vitória imensa estar em Berlim”.
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Os diversos júris estiveram de acordo, já que o júri oficial acabou por repetir a decisão que o ecuménico e o da crítica haviam feito ao início da tarde de hoje, ao entregar o Urso de Ouro a On Body and Soul, o tal filme que nos cativou desde o dia 1 do festival. Assim que vimos este filme húngaro, ficámos literalmente presos – de corpo e alma – a este registo perfeito que combina um rigor meticuloso na mais sensacional história de amor. No sonho tudo é perfeito foi o título feliz que encontrámos para definir essa emoção que transbordou para fora do ecrã de uma forma contagiante. Ainda hoje já havia vencido o prémio FIPRESCI, da crítica internacional, bem como o prémio ecuménico, das organizações de fundo espiritual. É por assim dizer um vencedor em toda a linha.
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Isto apesar de o grande favorito da imprensa ter residido em outras latitudes. Desde logo, nos dois grandes favoritos, sobretudo The Other Side of Hope, do finlandês Aki Kaurismaki, e também em Una Mujer Fantástica, do chileno Sebastián Lelio.
Em nosso entender, Kaurismaki tem um belo trabalho, rigoroso a seguir o seu trabalho autoral, e aqui a alinhavar o tema dos refugiados. Em todo o caso, apesar dessa componente afetiva ter merecido logo o aplauso da massa crítica, não podemos dizer que exista algo de novo no seu cinema. Há claro, uma eficácia feliz em dominar as várias componentes do filme, humor, estética e tema, mas, de alguma forma, a comédia ácida que vemos não cresce por beneficiar da intromissão desse tema mais sensível de incluir um refugiado sírio na sua história e a sua associação a um dono de restaurante. Fica-se, diríamos, pela intenção. Por tudo o que já se disse fica-lhe a matar o prémio da realização.
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Já no que diz respeito ao bravo Una Mujer Fantástica, passa-se algo que é igualmente semelhante. Apesar do chileno Sebastián Lelio ter conseguido um drama pessoal brilhante, será difícil de dissociar a presença da atriz trans Daniela Vega, em cujos ombros carrega todo o filme. É essa também uma ‘causa’ do filme. Não que se trata de uma ‘causa’ abordada na narrativa, mas uma mensagem que é indelével, as ao mesmo tempo orgânica neste filme. Ao receber o prémio de Melhor Guião, premeia-se então essa magnífica história de amor e perda de um homem que decidiu ser mulher, que amou e perdeu. Por isso mesmo, tiramos o chapéu ao júri liderado por Paul Verhoeven na sua escolha.
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Já no plano das interpretações, as entregas para o alemão Georg Friedrich, em Bright Lights, de Thomas Arslan, e para a coreana Ming-hee Kim, por On the Beach At Night Alone, de Hong Sang-soo. George dá uma prestação robusta no pai introvertido que acaba por fazer uma viagem de carro com o filho adolescente durante o verão depois de cumprir o desejo de enterrar o seu pai no norte da Noruega onde decidira viver uns anos antes. Temos então essa luta de comunicação entre um pai a tentar recuperar o tempo perdido com o filho e este a retribuir com o distanciamento adolescente. Uma prestação que acaba por ser bem mais orgânica, já que vive quase tanto do que não se diz do que com aquilo que é proferido, devidamente ampliada pela luz constante do sol da meia-noite.
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Já a coreana Ming-hee Kim foi uma absoluta revelação no papel de uma atriz demasiado segura que gosta de apreciar as coisas boas da vida e as pessoas. Sobretudo quando bebe uns copitos do saké coreano deixando que a sua língua se solte para além do conveniente. Uma performance de tremenda segurança e afecto que só pode estar ao alcance de uma atriz completa.
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Referência ainda ao Prémio do Júri para Felicité, do francês de origem senegalesa Alain Gomis, com o seu retrato de fundo realista da vida dos menos desfavorecidos em Kinshasa, em particular da cantora que terá de arranjar uma pequena fortuna em tempo recorde para que o seu filho possa ser operado no hospital após um grave acidente de moto.
Igualmente para o envolvente e sinuoso Ana, Don Amour, do romeno Cãlin Peter Netzer, que já vencera o Urso de Ouro, em 2013, com o brilhante Mãe e Filho. Oferece-nos agora uma observação psicológica e terapêutica da relação amorosa e turbulenta de um jovem casal romeno.
Uma palavrinha apenas para Pokot, de Agnieszka Holland, vencedor do prémio de melhor montagem, que acaba por ser um prémio de consolação para a Presidente da Academia Europeia de Cinema pelo seu esforço em criar um filme com uma componente de boas causas algo insólita. Ainda assim, bem filmado.
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O que importará realçar neste momento é que a 67ª edição da Berlinale teve um nível bastante elevado, sem filmes de fraca qualidade. Compreende-se, pois, que filmes como Colo, de Teresa Villaverde, ou Joaquim, uma co-produção luso-brasileira, pela Ukbar Filmes de Pandora da Cunha Telles, possam ger ficado arredados do palmarés. Mas a qualidade não lhes será negada.
Foi bom este festival, Para o ano há mais.
Palmarés 67ª edição do Festival de Berlim
Urso de Prata Contribuição artística – Ana, mon Amour (montadora Dana Bunesco)
Urso de Prata Melhor Argumento – Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lelio
Urso de Prata Melhor Ator – Georg Friedrich – Bright Lights, de Thomas Arslan
Urso de Prata Melhor Atriz – Ming-hee Kim – On the Beach At Night Alone, de Hong Sang-soo
Urso de Prata Melhor Realização – Aki Kaurismaki (The Other Side of Hope)
Urso de Prata Albert Bauer – Novas perspectivas – Pokot, de Agnieszka Holland
Urso de Prata Prémio do Júri – Felicité, de Alain Gomis
Urso de Ouro On Body And Soul, de Ildikó Enyedi