Quando sabemos que universo clássico dos Cavaleiros da Távola Redonda será orquestrado por Guy Ritchie, o realizador de Sherlock Holmes, torna-se legitimo antecipar personagens coloridas, diálogos inflamados de sotaque carregado, na linha de Snatch ou Rockrolla. Não que algum mal venha ao mundo, já que essa tem sido a sua imagem de marca, aliada a uma propensão para cenas de acção exuberantes temperadas por uma edição feroz.
A fórmula terá sido aprovada pela Warner como forma de tentar impor esta tentativa de franchise que agora chega às salas, antecedida por um período de gestação difícil, dificultado por filmagens adicionais, seguramente para tentar limar opiniões menos favoráveis em early screenings. No resultado final, nota-se o esforço, ainda que o resultado pouco mais faça do que repetir fórmulas estafadas.
Que entrem então os mastodontes elefantinos digitais, as cobras hiper-realistas e as texturas de multidões replicadas, destinadas a encher o olho, ainda que sem um pingo de emoção desde que passaram a ser imagem de marca da saga O Senhor dos Anéis há mais de quinze anos atrás e do subsequente modelo neomedieval imposto pela série da HBO Game of Thrones.
Charlie Hunnam (o aventureiro do recente A Cidade Perdida de Z), devolve mais segurança que empenhamento no predestinado Artur, ao passo que Jude Law tenta esquecer o Watson de Sherlock Holmes nesta composição de Vortigern assimilando avidamente todos os tiques de uma realeza desequilibrada na longa galeria shakespeareana. Temos ainda Eric Bana, Astrid Besgès-Frisbey, Djimon Hounsou e até um certo David Beckham numa curta e risível participação que depressa se tornou paródia das redes sociais.
Valha-nos a espada Excalibur cravada na rocha, como que a recordar-nos ao que vimos. Pena é que este reviralho de efeitos especiais depressa nos intrometa numa inconsequente amálgama de referências blockbuster temperadas por visuais e narrativa de videojogos. No entanto, será arriscado pensar que mesmo o público mais mainstream engole tudo.