Na passada quinta-feira, dia 1, o ciclo de debates Novos Olhares regressou à Cinemateca. A proposta era discutir não só os filmes apresentados em maio, no início do ciclo, mas também dar a conhecer sobre os percursos individuais dos realizadores e as suas questões sobre o contexto criativo. Margarida Leitão (Gipsofila), Pedro Augusto Almeida (Prefiro Não Dizer), Adriano Mendes (Primeiro Verão), Joana Frazão (Todas As Meninas São Bailarinas), David Bonneville (O Cigano), André Guiomar (Píton) e André Dinis lá estavam para discutir cinema junto com o público.
Os filmes apresentados em Maio são, na sua maioria, indie. Até mesmo os realizadores que tiveram qualquer apoio externo para os filmes ali exibidos também já fizeram uma produção indie nalgum momento da carreira.
O importante está ali: os participantes do debate são jovens cineastas, mas também pessoas comuns, que superaram e ainda estão a superar, muitos obstáculos que são-los impostos devido à falta de dinheiro, de incentivo à cultura e de um sistema decente que consiga categorizar os projectos a serem subsidiados. Isto são dificuldades não só presentes no início de carreira, mas também ao longo dela.
Para começar o debate, pois a conversa precisa partir dalgum lugar, os percursos individuais são postos em pauta. Entre os oito cineastas, existem duas características muito comuns, que os separam em dois grupos. Alguns sempre gostaram de cinema, e realizar filmes caiu-lhes como uma luva. Outros tinham planos diferentes, e encontraram o talento para fazer cinema em outras áreas.
As dificuldades para inserirem-se no meio cinematográfico foi assunto em comum, principalmente para aqueles que pouco tinham contacto com o cinema. E é aí que vê-se uma contradição frequente na vida de quem realiza, ou trabalha, com cinema indie: para que o filme ganhe visibilidade, é importante, e vital, que o realizador seja reconhecido. Entretanto, para ser reconhecido, os seus trabalhos precisam de visibilidades.
Isto diz-nos que ainda falta muito para se caminhar rumo ao sucesso de cinema indie em Portugal. É difícil começar de algum ponto quando há poucas bolsas de investimento e pouca credibilidade em novos realizadores. No debate, a questão sobre as oportunidades foram ressaltas a todo momento.
O que leva o realizador aos festivais e aos grandes ecrãs não é só talento e trabalho árduo. É, na maioria das vezes, as oportunidades que ele tem. É preciso não só conhecer sobre realização, mas também sobre os contactos que podem ajudá-lo na carreira. Sem conhecer alguém duma produtora que possa investir em seu trabalho, o realizador praticamente não vai à lugar nenhum. É difícil estar numa profissão onde noventa por cento da realização do trabalho depende de quem se conhece.
É aí que está a importância do debate. É mais do que relevante, é vital para o cinema indie. A ausência de critérios decentes para seleccionar bolsas de investimento, a contradição nalguns critérios de pontuação no sistema do Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA) e a falta de contactos para produção acabam por engolir filmes com muito potencial para dar orgulho ao cinema português. Os festivais, que muitas vezes exigem um histórico com demasiadas produções dos realizadores, não ficam atrás, pois também contribuem, mesmo que pouco, para apagar bons talentos.
Além de falar de cinema e compartilhar experiências, o ciclo de debates Novos Olhares é uma tentativa de deixar o cinema indie mais indie. É uma oportunidade para que os jovens cineastas possam fazer produções independentes sem dependerem de tantos factores que nada contribuem para as suas realizações. É preciso tirar as várias pedras no caminho do cinema português, que existem apenas para dificultar o seu crescimento e fazer uma seleção injusta e muito falha de quem é que merece um pouco de holofote.
O último debate do ciclo Novos Olhares decorrerá a 3 de julho.